Sérgio Tauhata | De São Paulo
O dólar não teve forças para resistir a tanta pressão ontem. A moeda dos EUA recuou para a mínima em mais de dois anos e meio sob o peso de eventos tão distintos quanto um furacão, dados econômicos negativos e a reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE).
Os dissabores do dólar começaram após o salto dos pedidos de seguro-desemprego que voltaram ao maior patamar em dois anos sob impacto do furacão Harvey. A quantidade de novas solicitações subiu para 298 mil ante expectativa de 241 mil.
Quase no mesmo momento da divulgação dos dados de seguro-desemprego, o presidente do BCE, Mario Draghi, concedia sua habitual entrevista após a autoridade ter mantido as taxas e o programa de compras de ativos inalterados. Os comentários impulsionaram o euro de volta a US$ 1,20, nível mais elevado ante o dólar desde início de 2015.
Draghi evitou antecipar detalhes sobre os planos para ajustar o programa de compras de bônus, mas fez uma sinalização importante: indicou a próxima reunião de política monetária, em 26 de outubro, como a data em que a autoridade deve definir o “cerne” do futuro do programa.
O BCE alimentou ainda o rali do euro ao revisar o crescimento do PIB do bloco em 2017 de 1,9% para 2,2%. As projeções de inflação também foram alteradas, mas para baixo. As novas estimativas apontam para altas de 1,2% e 1,5% em 2018 e 2019.
O dólar perdeu força também, conforme o furacão Irma passa a se avolumar no horizonte e ameaçar a Flórida. A tempestade classe 5, a mais alta na escala que mede a potência dos eventos do gênero, pode atingir o litoral americano no fim de semana.
No fechamento das bolsas de Nova York, o ICE Dollar Index, que mede a variação do dólar em relação a uma cesta com os seis pares internacionais mais negociados, operava em queda de 0,81% a 91,54, no nível mais baixo desde janeiro de 2015. O euro subia 0,83% a US$ 1,2019, no patamar mais elevado em 33 meses. A libra avançava 0,43% a US$ 1,3098. O dólar perdia ainda 0,71% ante a moeda japonesa a 108,47 ienes.
O anúncio na quarta-feira de um acordo entre os republicanos e democratas para estender a elevação do teto de endividamento federal por três meses, até 15 de dezembro, em conjunto com uma ajuda de US$ 15 bilhões para as regiões afetadas pelo furacão Harvey, ajudou a empurrar os Juros dos Treasuries para os menores níveis desde a eleição presidencial em novembro.
O yield da T-note de 10 anos fechou em 2,061% ante 2,108% de quarta-feira, no menor nível desde 8 de novembro, quando encerrou em 1,867%. Os Juros dos T-bonds de 30 anos recuaram para 2,677% ante 2,723%. Os rendimentos dos papéis de dois anos passaram a 1,270% contra 1,306% na mesma base de comparação.
Nas bolsas de Nova York, o Dow Jones fechou em queda de 0,10% a 21.784,78 pontos. O S&P 500 recuou 0,02% a 2.465,10 pontos. O Nasdaq avançou 0,07% a 6.397,86 pontos. Na Europa, a perspectiva mais otimista para o crescimento da zona do euro expressada pelo BCE, em um cenário de inflação ainda abaixo da meta, impulsionou as ações. Em Frankfurt, o DAX fechou em alta de 0,67%, aos 12.296,63 pontos. O CAC-40, de Paris, ganhou 0,26%, aos 5.114,62 pontos. Em Londres o FTSE avançou 0,58%, aos 7.396,98 pontos. (com agências internacionais)
Fonte: Valor Econômico