BNDES reformula área de apoio a exportações e foca nos compradores

    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está reposicionando a área de apoio a exportações que passa por mudanças desde o ano passado. A tradicional linha de pré-embarque, que financia a produção do bem a ser exportado, perdeu força dentro do banco e a exportação de serviços de engenharia está em compasso de espera depois do envolvimento das empreiteiras na Lava-Jato. Nesse cenário, o foco do BNDES na exportação passa a ser a concessão de empréstimos para os compradores de aeronaves da Embraer – operação na qual o banco tem longo histórico – e o financiamento à venda de bens de capital para países da América Latina.

    O apoio à exportação de máquinas e equipamentos para países da região se dá de duas formas. Em uma das modalidades, o BNDES financia a exportação de bens de capital brasileiros em operações menores, em termos de valores, correndo o risco político dos países importadores, disse Ricardo Ramos, diretor da área de exportações do BNDES. Este ano o banco fez mais de 180 operações envolvendo a exportação de bens de capital como ônibus, caminhões, implementos rodoviários, máquinas e implementos agrícolas e máquinas para a construção. “São operações pulverizadas [em número] com tíquete baixo”, disse Ramos. As transações se concentram no Peru, Colômbia, Paraguai e Argentina.

    Nessas operações, com prazos de até cinco anos, o BNDES financia o comprador do bem de capital no exterior tendo como garantia uma fiança de banco comercial do país importador. Já o exportador recebe o pagamento, em reais, no Brasil. “Passamos a assumir o risco político dessas operações”, disse Ramos. Significa que se o país importador eventualmente declarar default, o BNDES pode ter dificuldades de receber o crédito. O BNDES passou a correr risco político em operações de curto prazo pois o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) enfrenta restrições orçamentárias, disse Ramos.

    A outra modalidade de apoio, segundo ele, é o financiamento a “operações estruturadas” para que exportadores brasileiros de máquinas e equipamentos participem de concorrências de projetos de infraestrutura, como BRTs, trens e hidrelétricas, em alguns países como Chile, Colômbia e Argentina. O BNDES participa com exportadores brasileiros, no momento, de uma concorrência para vender bens de capital para um projeto de BRT em Santiago, no Chile.

    Até as grandes empreiteiras serem envolvidas na Lava-Jato, o que levou o BNDES a suspender desembolsos para uma série de projetos de infraestrutura no exterior, a venda de máquinas e equipamentos era “puxada” pela exportação de serviços de engenharia. A empreiteira ganhava um obra em um país e levava com ela fornecedores brasileiros de máquinas e equipamentos. Essa dinâmica se reduziu. Em 2016, o BNDES anunciou a suspensão de desembolsos para 25 projetos que somavam US$ 7 bilhões. A suspensão ocorreu por avaliação de risco de crédito e não por irregularidades nos projetos.

    Ramos disse que boa parte desses projetos com desembolsos suspensos avança para fechar o “funding” sem o BNDES, e sem “contenda” judicial. Ele reconheceu que as dificuldades enfrentadas pelas empresas que exportam serviços de engenharia têm como efeito negativo uma queda nas exportações de bens de capital brasileiros. “Vamos continuar a apoiar a exportação de serviços de engenharia mais adiante, mas precisa de tempo, agora estamos em fase de rearrumação interna, assim como as empresas também estão se reestruturando”, disse o diretor.

    Números do BNDES apontam que em 2017 a área de exportações do banco deve desembolsar US$ 800 milhões, sendo que a linha de pré-embarque deve representar apenas cerca de 5% desse total. O restante é a linha de pós-embarque, que financia a comercialização do bem exportado. Neste segmento, o apoio às aeronaves da Embraer vai responder pela maior fatia dos desembolsos (ver reportagem Banco financia venda de aeronaves da Embraer para Sky West). Depois vêm desembolsos para serviços de engenharia e para outros bens de capital, excetuando os aviões da Embraer.

    A linha de pré-embarque é um produto que perdeu atratividade, em termos de custos, frente às linhas comerciais como o adiantamento de contrato de Câmbio (ACC), uma vez que, desde o ano passado, o BNDES parou de oferecer pré-embarque em TJLP para grandes empresas. A proximidade da TJLP com a Selic também tirou o atrativo do pré-embarque para empresas de menor porte que podem se financiar na linha de capital de giro do BNDES. “Vejo com bons olhos não entrar no pré-embarque, a menos que haja necessidade por uma restrição cambial, aí poderia se justificar um movimento contracíclico”, disse Ramos.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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