Pelo quinto ano seguido o Brasil arrecada muito e não dá o retorno correspondente em serviços à população. A conclusão é do estudo Carga Tributária/PIB x IDH – Cálculo do Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade, criado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). A pesquisa analisa as 30 economias com os mais altos impostos do mundo e o país aparece como o que oferece os piores serviços do planeta à população, tanto na esfera federal como na estadual e municipal. Os dados levam em consideração a carga tributária em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), e o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, que mede a qualidade de vida da população.
“Mesmo com os sucessivos recordes de arrecadação tributária, – marca que, este ano, já ultrapassou os R$ 800 bilhões -, o Brasil continua oferecendo péssimo retorno aos contribuintes, no que se refere a qualidade do ensino, atendimento de saúde pública, segurança, saneamento básico, entre outros serviços. E o pior, fica atrás de outros países da América do Sul, como Uruguai e Argentina, que ocupam, respectivamente, a 11ª e 19ª colocações no ranking”, alerta o presidente executivo do IBPT, João Eloi Olenike.
A falta de recursos para educação incomoda a estudante Gabrielle Basile, que paga a faculdade particular para garantir melhores oportunidades no mercado de trabalho. A falta de creches também foi motivo de crítica: “Inscrevemos minha sobrinha no berçário quando ela tinha um ano, até hoje não conseguimos vaga e acabou de fazer três anos.”
A faxineira Rosane* diz acreditar na pesquisa porque, quase todo dia, fica mais de uma hora para pegar o ônibus. Ela conta que desistiu do metrô por conta do tumulto. “É muita gente, não tem um lugar para ficar, muita falta de educação”, contou. Leandro Reis, analista administrativo, tem a convicção de que os recursos dos impostos não são bem distribuídos. “Acredito que existem falhas nessa repartição. O dinheiro não chega às áreas necessárias”, conclui.
O estudo aponta que, apesar de terem carga tributária muito próxima a do Brasil – de 35,04% do PIB -, Islândia (35,50%), Alemanha (36,70%) e Noruega (40,80%) estão muito à frente no que se refere a aplicação dos recursos em benefício da população, ocupando a 14ª, 15ª e 18ª posições, respectivamente.
Líder do ranking, a Austrália é o país que proporcionou melhor qualidade de vida; seguida da Coreia do Sul e dos Estados Unidos.
* nome fictício
Sem retorno
Brasil tem a pior colocação em estudo que relaciona a arrecadação de impostos com os benefícios proporcionados pelo governo à sociedade
País Carga tributária em 2013 Índice (em % do PIB)
1º Austrália 27,30 162,91
2º Coreia do Sul 24,30 162,79
3º Estados Unidos 26,40 162,33
4ª Suíça 27,10 161,78
5º Irlanda 28,30 158,87
6º Japão 29,50 156,73
7º Canadá 30,60 156,48
8º Nova Zelândia 32,10 155,44
9º Israel 30,50% 155,41
10º Reino Unido 32,90 152,99
11º Uruguai 26,30 151,91
15º Alemanha 36,70 150,23
19º Argentina 31,20 147,80
20º Eslovênia 36,80 146,97
25º Bélgica 43,20 140,21
30º Brasil 35,04 137,94
Fonte: IBPT
Fonte: Correio Braziliense