Brasil cresce só 10% do PIB global

    FMI e Banco Mundial reduz as projeções de expansão do PIB brasileiro neste ano para taxas perto de zero. País avança bem menos que a média da América Latina e fica atrás apenas da Itália, em recessão, e da Rússia, afetada por embargos

    Para desgosto da presidente Dilma Rousseff, que tenta a reeleição, o Fundo Monetário Nacional (FMI) sentenciou ontem que o Brasil parou,devido a políticas equivocadas, que resultaram no aumento da inflação e na perda de competitividade do país. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano será de apenas 0,3%, o correspondente a 10% da média mundial, de 3,3%. Em julho, a estimativa era de 1,3%. Com esse resultado, entre as 13 principais economias do planeta, o Brasil só avançará mais do que a Rússia, que está sofrendo com os embargos por causa do conflito na Ucrânia, e a Itália, em recessão. Quando comparado às nações emergentes, o saldo é ainda pior: esses países avançarão 4,4%.

    Na avaliação do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, há três focos de preocupação no mundo hoje: Brasil, Japão e Zona do Euro. Segundo ele, essas economias devem agir rapidamente para sair do atoleiro. Mas, para isso, precisam retomar a confiança, com políticas críveis e transparentes. A redução de 1 ponto percentual em relação à projeção anterior do Fundo, em julho, de 1,3%, está no relatório Perspectivas da Economia Global (World Economic Outlook), divulgado ontem em Washington. Pela sexta vez seguida, a estimativa de expansão do PIB do país neste ano foi rebaixada.

    O FMI ressaltou que as condições externas foram desfavoráveis, pois as exportações não cumpriram as expectativas, e o comércio se deteriorou em vários países. Porém, ressaltou que, “em determinados mercados”, as incertezas da política econômica “afetaram a confiança e os investimentos”. Se a previsão do Fundo vingar, será o segundo pior resultado desde 1998, quando a economia não registrou crescimento, e acima da queda de 0,3% em 2009, no auge da crise mundial.

    “No Brasil, o PIB se contraiu no primeiro semestre do ano, refletindo o investimento fraco e uma moderação no consumo, devido a condições financeiras mais apertadas, à queda continuada nos negócios e à confiança do consumidor”, assinalou o relatório. O Fundo também reduziu as projeções para 2015: avanço de 1,4%, abaixo dos 2% esperados anteriormente. As previsões para o PIB brasileiro estão aquém da aposta do governo, de crescimento de 0,9%. Mas ainda são melhores que as do mercado, que vê uma expansão de 0,24% em 2014 e de 1%, em 2015.

    Longe de ser otimista, o Banco Mundial (Bird) previu crescimento econômico para o Brasil de 0,5%, menos ruim do que a do FMI, mas muito abaixo da média apontada para a América Latina, de 2,7%. O economista-chefe da instituição para a região e o Caribe, Augusto de la Torre, disse que esse índice só será superado, no futuro, se o país assumir certos compromissos. “O Brasil está no meio de um debate fundamental sobre como reconstruir o crescimento, e isso passa por grandes agendas”, afirmou. A principal seria fazer uma política econômica capaz de atrair investimentos.

     

    Intervencionismo

     A desconfiança no Brasil é crescente, tanto de empresários quanto de consumidores. “A crise se acentuou porque o governo abusou do intervencionismo ao forçar a queda dos juros e das tarifas de energia e ao segurar preços administrados. Além disso, temos uma política fiscal incerta, com desonerações pontuais que vêm e vão. Isso tudo levou à falta de previsibilidade, inibindo investimentos”, resumiu Silvio Campos Neto, analista da Tendências Consultoria.

    O relatório do FMI também destacou a fraca competitividade do Brasil para justificar o corte na previsão de crescimento. O país é caro e pouco produtivo porque a qualificação dos trabalhadores é deficiente. “O custo do trabalho aumentou sem que isso fosse compensado por aumento de produtividade”, pontuou Campos Neto.

    Para Flavio Serrano, economista sênior do Banco Espírito Santo (BES), a atual política econômica, com estímulo ao consumo via endividamento, se esgotou. “O país precisa se reinventar, focar investimentos e produtividade para crescer”, defendeu. Com pesada carga tributária, juros elevados e sem confiança na economia, as empresas pararam de investir.

    “Com a inflação alta e o crédito mais caro, as famílias frearam o consumo, e o mercado de trabalho se enfraqueceu. Mas o governo continua insistindo em pilotar a macroeconomia com ações microeconômicas”, acrescentou Serrano. “O Brasil, por vários anos, abortou a sua agenda de reformas e perdeu a oportunidade de melhorar o ambiente de negócios para atrair investimentos”, acrescentou Campos Neto, da Tendências.

    Para 2015, as previsões também não entusiasmam. Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, o resultado das urnas não deverá ter efeito imediato no ciclo econômico. “A incerteza eleitoral contribuiu para o fraco crescimento. Um indicativo de vitória do Aécio pode melhorar os índices de confiança. Mas aumento de investimento só no ano que vem”, destacou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

    Matéria anteriorSobram pesquisas, falta transparência
    Matéria seguinteO Brasil real