Calote dos EUA levará mundo para a recessão

    Deco Bacilon

    Tesouro norte-americano alerta que veto ao aumento do teto da dívida do país provocará estragos piores que os da crise de 2008. Paralisia do governo chega ao terceiro dia e Obama pede que Partido Republicano “pare com a farsa” e vote o orçamento.
    O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, subiu ontem o tom dos ataques aos líderes do Partido Republicano, aos quais acusa de serem os principais responsáveis pela paralisia que há três dias afeta a maior economia do mundo. Ele instou os parlamentares comandados pelo presidente da Câmara dos Deputados, John Boehner, a “pararem com a farsa” e votarem um orçamento temporário que permita ao governo retomar o controle de serviços públicos que foram afetados pela falta de recursos federais, como escolas, hospitais, parques e até a segurança nacional. Mais de 2 milhões de servidores foram mandados para casa, por falta de pagamento.

    “Minha mensagem é simples: marquem a votação”, disparou Obama, citando diretamente o líder republicano na Câmara. “Se Boehner colocar o projeto de financiamento do governo em votação, a paralisia pode acabar”, ponderou. A recusa da oposição em votar o orçamento é uma estratégia para forçar o presidente norte-americano a suspender a reforma do sistema de saúde, o Obamacare, que atende quase 20% da população do país, que não pode pagar convênios médicos.

    Diante do impasse, o governo ficou sem recursos para custear até despesas simples, como a manutenção de parques públicos e atrações turísticas. Mas esse pode ser o menor dos problemas se, até 17 de outubro, o Congresso não aprovar o aumento do teto de endividamento público, de US$ 16,7 trilhões. Sem um acordo para ampliação desse limite, o Tesouro norte-americano terá de decretar calote, algo que jamais ocorreu nos Estados Unidos.

    O temor de que os EUA deixem de pagar os credores — entre eles, o Brasil — tem provocado uma onda de tensão nos mercados. Ontem, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) caiu 1,15%. Em Nova York, o índice Dow Jones tombou 0,9%. O nervosismo aumentou depois de o Tesouro norte-americano advertir que um calote na dívida provocará uma crise pior que a de 2008. “Se um bloqueio sobre o limite do endividamento levar a um calote, haverá um efeito catastrófico não apenas sobre os mercados financeiros, mas também sobre a geração de emprego, o gasto dos consumidores e o crescimento econômico”, assinalou o órgão em um relatório. “O mercado de crédito pode congelar, o valor do dólar, cair e as taxas de juros norte-americanas podem disparar, levando a uma crise financeira e a uma recessão que lembram os episódios de 2008, ou inclusive pior.”

    Emergentes
    O governo de Obama vem funcionando, atualmente, à base de medidas extraordinárias e o rombo mensal nas contas públicas ronda os US$ 60 bilhões, que são obtidos por meio de lançamento de títulos da dívida nos mercados. Diante desse quadro dramático, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, fez um apelo ao Congresso norte-americano, para que ponha fim aos impasses orçamentários o mais rapidamente possível. “A paralisia do orçamento já é grave o suficiente, mas a incapacidade de subir o teto da dívida seria ainda pior”, afirmou ela.

    No entender de Lagarde, a crise norte-americana terá efeitos perversos sobre os países emergentes, como o Brasil. Ela admitiu que a aversão a essas economias deve aumentar, caso ocorra o pior nos EUA. Por isso, avisou que as nações em desenvolvimento devem se ajustar para lidar com as dificuldades “da forma mais suave possível”. Nos cálculos do FMI, somente a volatilidade dos mercados, provocada pela fuga de capitais, poderá reduzir entre 0,5 e 1 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB) desses países. “Os emergentes têm novos obstáculos à frente, e a transição não será fácil nem rápida”, alertou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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