Cautela aumenta em crédito ‘fumaça’

    Por Felipe Marques | De São Paulo

    A competição intensa para antecipar a receita com venda em cartões de crédito para os lojistas contrasta com a maior cautela dos bancos em fazer outra modalidade semelhante à antecipação, a “operação fumaça”. Nesse tipo de empréstimo, o banco traça um histórico das transações de cartões de determinado lojista e dá um financiamento que é um múltiplo desse valor. Em teoria, se o lojista seguir tendo o desempenho que teve no passado, não terá dificuldades em pagar o empréstimo.

    Só que a incerteza quanto ao desempenho da economia brasileira nos próximos meses tem feito com que os bancos adotem uma postura mais cautelosa para conceder o crédito “fumaça”. Afinal, tem ficado mais difícil prever o quanto o consumo vai se desacelerar em alguns segmentos e, ao contrário da antecipação de recebíveis, não há garantia.

    O Banco do Brasil diz que essa é uma linha que tem requerido muito mais cautela que a antecipação daquilo que já foi efetivamente performado. É o que diz Asclepius Soares, gerente executivo de micro e pequena empresa do BB. No banco, a linha “fumaça” pode ser de, no máximo, oito vezes o valor médio mensal do que o lojista faturou em cartões nos últimos doze meses. A média é de seis. “É uma linha que exige mais cuidado.”

    A Cielo também tem notado os bancos mais reticentes nessas operações. “Se você considerar o nível de empréstimos que não é garantido por recebíveis, talvez eles [os bancos] não estejam tão agressivos como costumavam ser”, afirmou Rômulo de Melo Dias, presidente da credenciadora de cartões, na divulgação de resultados trimestrais.

    Apenas os bancos podem fazer a “operação fumaça”. As credenciadoras podem antecipar apenas as compras que, de fato, foram capturadas por seus terminais. Em compensação, as credenciadoras antecipam sem pagar Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), já que o Banco Central não considera suas operações como crédito.

    No caso do Santander, e agora do Itaú Unibanco, que tirou da bolsa a sua credenciadora Redecard e a integrou à operação do banco, há o benefício de poder, em tese, combinar o custo de captação de um grande banco à vantagem tributária das credenciadoras na antecipação das faturas. Também é possível combinar a oferta do crédito “fumaça” com a antecipação tradicional e outros produtos.

    O Santander pondera, contudo, que mesmo que o cenário exija mais cautela com a linha, ela ainda tem um risco menor que o de um capital de giro tradicional. Para Reinaldo Assunção, há ainda dentro do banco a possibilidade de avançar mais no “fumaça”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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