Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
A nova regra de liquidação de pagamentos para “marketplaces” pode fazer com que os custos desses shoppings virtuais subam cerca de 3%, ao longo dos próximos meses, nas contas da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). A alta resultaria das novas exigências definidas pelo Banco Central (BC).
O novo modelo prevê que todo fluxo financeiro de pagamentos em shopping virtuais e em aplicativos de compras na internet seja compensado e liquidado na Câmara Interbancária de Pagamentos (CIP). A norma começaria a funcionar no dia 4 de setembro, mas, na quinta-feira da semana passada, o BC adiou o prazo para algumas empresas.
Para Cielo, Redecard, Getnet, Stone e outras companhias conhecidas como adquirentes, o prazo do dia 4 ficou mantido. “Marketplaces” e alguns prestadores de serviços de pagamento, os subadquirentes (Moip, Pagar.me e Mercado Pago, entre outros) só serão obrigados a operar dessa forma a partir de 28 de setembro de 2018. Os subadquirentes e “marketplaces” que se considerarem prontos também poderão seguir a data inicial.
Para os shoppings virtuais, a adequação à regra pode ser feita de duas formas: podem operar com sistemas próprios ou contratar um adquirente ou subadquirente. Neste último caso, a taxa média cobrada pela intermediação é de 1,5% do valor da venda, segundo Carlos Alves, diretor de “marketplace” da Abcomm.
Além desse custo adicional, Alves acrescenta a perda eventual do ganho financeiro que as empresas têm atualmente, quando fazem antecipação de recebíveis para os vendedores que estão cadastrados no “marketplace”.
Sob o arranjo atual, Redes como Via Varejo (dona de Ponto Frio e Casas Bahia) e B2W (Submarino, Americanas.com) oferecem esse serviço financeiro, já que são elas que recebem o dinheiro das vendas. “Se o lojista usa um subadquirente, é ele [o subadquirente] que fica com essa oportunidade de ganho, que pode ficar em mais 1,5% da transação”, disse Alves.
Com 6,5 mil associados – entre eles Hering e Dafiti -, a Abcomm estima que 80% deles passarão a operar sob as novas regras a partir de 4 de setembro por meio de subadquirentes. Com isso, o cenário mais provável é que esses custos adicionais sejam repassados aos preços, disse Alves.
Mathias Fischer, diretor da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), disse que a decisão sobre eventuais reajustes de preços ainda depende de conversas com o BC. Segundo ele, pelas regras publicadas pela autarquia, não está claro se o envio das informações das transações poderá ser feito de forma consolidada, apenas uma vez ao dia, ou se será preciso mandá-las na medida em que forem realizadas. “Se várias operações tiverem que ser feitas o custo vai aumentar muito e será preciso mexer nos preços. Caso contrário, não”, disse. A ABFintech montou um grupo de trabalho dedicado ao assunto.
Publicada em 2015, a nova regra de pagamentos do BC deixava claro que os “marketplaces” também deveriam se adequar. Isso pegou muita gente de surpresa já que o texto original não era tão enfático e causou uma corrida entre as empresas e uma pressão para o adiamento das novas exigências.
“A terapia de choque funcionou. Mas que bom que adiaram porque ia gerar uma fortuna de gastos para adaptação nessas últimas semanas”, disse Gerson Rolim, coordenador de Comitês da Câmara-e.net.
Na avaliação de João Barcellos, presidente da subadquirente Mundipagg, o adiamento da obrigatoriedade da nova regra permitirá que os sistemas já desenvolvidos por algumas empresas sejam melhorados, passando a funcionar melhor e com mais funcionalidades. Já Felipe Zmoginski, secretário-geral da ABO2O – associação que reúne empresas como Baidu, Easy Taxi, Vaniday e Restorando que atuam no modelo “on-line to off-line” (ou on-line para o mundo físico) -, disse que o prazo ampliado permitirá que outros fornecedores participem do mercado, ampliando as opções e favorecendo o ambiente de negócios.
Fonte: VALOR ECONÔMICO