O Comitê de Política Monetária (Copom) deve cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual na quarta-feira, para 6,5% ao ano. Com isso, a taxa chegará ao menor patamar da história e deve permanecer nesse nível, pelo menos, até o primeiro semestre de 2019. Para o mercado, a lenta recuperação da economia, que deve crescer 3% em 2018, aliada à ausência de pressões inflacionárias no radar, manterá a Selic inalterada por um longo período.
A trégua do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é tamanha que, na comparação em 12 meses, a variação de preços permanece abaixo de 3% entre julho de 2017, quando chegou a 2,71%, e fevereiro de 2018, com variação de 2,84%. A tendência é de que a inflação permaneça abaixo do piso da meta nos próximos meses, o que favorecerá a manutenção dos juros no menor patamar da história. O corte da Selic na reunião do Copom, que começa amanhã, ficou condicionado à surpresas inflacionárias. E elas se materializaram.
Desde o último encontro do colegiado, ficou claro que o IPCA deve permanecer mais próximo dos 3% do que dos 4,2% estimados pelos diretores da autoridade monetária. As projeções apresentadas pelo BC no último Relatório Trimestral de Inflação (RTI) apontavam que o IPCA de janeiro teria alta de 0,53%, e o de fevereiro, de 0,47%. Entretanto, o resultado apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou variação positiva de 0,29% no primeiro mês do ano e de 0,32% no segundo. Para março, a mediana das expectativas apresentada pelo boletim Focus projeta alta de 0,22%. Havia quatro semanas, os analistas apostavam em variação de 0,31%.
Demanda
Aliada a isso, a gradual recuperação da atividade econômica favorece a manutenção dos juros em patamar baixo. No mercado, não há expectativa de crescimento da demanda por produtos e serviços que tenha impacto direto na elevação de preços. A expansão moderada do PIB ficou clara após a divulgação dos principais indicadores de atividade. Em janeiro, a produção industrial encolheu 2,4%, o setor de serviços recuou 1,9% e as vendas do varejo tiveram alta de 0,9%.
No mercado, a avaliação é de que os primeiros dados devem colocar um viés de baixa nas projeções dos analistas que apostavam em um crescimento da economia superior a 3%. “A recuperação será lenta e gradual, com a inflação mais baixa do que era esperada pelo mercado. Com isso, o BC pode cortar os juros em 0,25 ponto percentual e parar o ciclo de cortes. A discussão sobre novas quedas ou alta de juros pode voltar a partir de julho, quando o horizonte relevante para a política monetária leva em conta as metas de 2019”, destaca o economista Rafael Cardoso, da Daycoval Investimentos.
As principais pressões ao cenário inflacionário, destaca Cardoso, estão ligadas a um maior reajuste nos preços da energia elétrica e a uma possível alta no custo dos alimentos, que no atacado dá sinais de elevação.
Ambiente favorável
O ritmo de crescimento moderado da economia no primeiro trimestre, avalia o diretor de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, favorecerá o último corte de juros de 0,25 ponto percentual. Nas contas dele, o PIB no primeiro trimestre terá expansão de apenas 0,5%, diante da lenta recuperação da indústria, das vendas do varejo e do setor de serviços. “Os indicadores coincidentes de fevereiro também sugerem crescimento apenas moderado do consumo”, destaca.
Na opinião de Barbosa, a despeito da pressão nos índices de inflação ao produtor, a expectativa de repasse ao consumidor continua limitada. Para ele, a alta das cotações agrícolas ainda não é suficiente para pressionar os preços de alimentos ao consumidor. “Ao mesmo tempo em que a ociosidade da economia deve limitar os repasses ao varejo dos bens industriais”, diz.
O diretor do Bradesco aponta, ainda, que, desde a última decisão do Copom, as surpresas inflacionárias se confirmaram, com descompressão mais intensa do que a esperada dos núcleos, o que o levou a revisar a projeção de IPCA de 2018 para 3,5%. “Adicionalmente, os primeiros indicadores de atividade do ano reforçam a leitura de crescimento moderado no primeiro trimestre. Em nossa visão, as surpresas baixistas com a inflação e a retomada moderada da atividade levarão o BC a um novo corte de 0,25 ponto percentual”, afirma.
As surpresas inflacionárias de janeiro e fevereiro, além das previsões baixistas para o IPCA de 2018 e 2019, favorecem a queda dos juros em 0,25 ponto percentual, avalia o economista-chefe para a América Latina do Banco Goldman Sachs, Alberto Ramos. Para ele, além dos preços controlados, a redução da Selic é favorecida pela recuperação gradual da atividade econômica. “Apesar dos resultados fracos de janeiro, as perspectivas para o consumo das famílias e do setor de serviços são positivas. Tudo isso apoiado por um ambiente global de inflação baixa, aumento do emprego, melhores condições de crédito e fortalecimento da confiança do consumidor”, comenta.
Fonte: Correio Braziliense