Copom mantém Selic em 11% ao ano e encerra ciclo de alta

    O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decretou o fim de um dos ciclos de aperto …

    O Comitê de política monetária (Copom) do Banco CENTRAL decretou o fim de um dos ciclos de aperto monetário mais longos e intensos desde a instituição do regime de metas, em 1999. De forma unânime, o colegiado presidido por ALEXANDRE TOMBINI manteve a Selic em 11% ao ano, depois de um ano de ajuste e nove altas que totalizaram 3,75 pontos percentuais, partindo de uma mínima história de 7,25% ao ano em abril de 2013.

    No breve comunicado, o que chama atenção é o uso do termo “neste momento”. O uso desse termo pode ser interpretado como uma porta aberta para novos movimentos. Em tese, poderia ser uma retomada do movimento de alta, como o mercado vem esperando, já que a inflação ainda não convergiu à meta. Mas cortes não poderiam ser totalmente descartados para um Copom que, no passado, mostrou bastante sensibilidade à evolução da atividade econômica.

    A decisão veio em linha com a expectativa majoritária de tesourarias e departamentos econômicos de instituições financeiras e consultorias. Pesquisa realizada pelo Valor com 42 analistas mostrava que 38 deles acreditavam em estabilidade do juro básico e apenas quatro previam que o colegiado votaria por mais uma elevação de 0,25 ponto.

    O encerramento do ciclo acontece mesmo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e as expectativas de inflação dos analistas econômicos estarem longe do centro da meta de 4,5%. A inflação oficial acumulada em 12 meses até abril está em 6,28% e, pelas projeções do boletim Focus, uma pesquisa de expectativas de mercado divulgada semanalmente pelo próprio BC, deve encerrar o ano em 6,47%.

    Quando o BC começou a aumentar a Selic, em abril de 2013, numa decisão não unânime e com passo de 25 ponto-base, o IPCA acumulado em 12 meses era de 6,49%, não muito distante da mais recente medição. O ponto mínimo da inflação em 12 meses desde então foi de 5,59%, em janeiro desde ano, e a média do período ficou em 6,09%. Nem as projeções oficiais do próprio BC sugerem IPCA próximo ao centro da meta no chamado horizonte relevante da política monetária, ou seja, período em que a inflação é afetada pela alta de juros.

    No último Relatório de Inflação, de março, o IPCA estava estimado em 6,1% para 2014 no chamado cenário de referência, que pressupunham juros estáveis em 10,75% ao ano. Não há convergência para o centro da meta, de 4,5%, até o primeiro trimestre de 2016, período para o qual os exercícios do BC apontam um IPCA em 5,4%.

    A falta de reação da inflação levou a questionamentos entre especialistas sobre a perda de eficácia da política monetária. O BC, porém, sustenta que leva algum tempo para os juros afetarem a inflação. Segundo sua visão, a evolução da atividade econômica, do mercado de crédito e das expectativas de inflação está dentro dos padrões de ciclos anteriores de aperto monetário e, portanto, tudo indica que a alta dos juros está operando da forma esperada.

    O BC vinha acenando com a possibilidade do fim do ciclo de alta desde o fim do ano passado, quando sua comunicação oficial passou a chamar atenção para os efeitos cumulativos e defasados das ações de política monetária. Uma surpresa inflacionária em dezembro fez com que a autoridade monetária revisse sua estratégia, alongando o ciclo.

    No começo desde ano, a alta de preços dos chamados alimentos “in natura” levou o BC a atuar com um pouco mais de firmeza para que os efeitos desse evento transitório não contaminasse outros preços da economia, conforme explicações dadas pela própria autoridade monetária.

    Outro contratempo no atual ciclo, ocorrido em meados do ano passado, foi a desvalorização cambial. Ao contrário do observado em outros momentos de alta de juros, quando o real se valorizava, ajudando a conter preços de produtos importados, desta vez o dólar subiu, respondendo à mudanças na política monetária dos Estados Unidos. Em abril de 2013, a moeda americana era cotada abaixo dos R$ 2 e chegou a ir a R$ 2,4 durante o ciclo, antes de se acomodar, recentemente, na linha de R$ 2,2.

    Uma das grandes incertezas que dificulta a ancoragem das expectativas de inflação dos agentes privados é o comportamento dos preços administrados neste e nos próximos anos, que segundo o BC se encontram desalinhados e em patamares baixos. O BC estima alta de 5% para esses preços em 2014, depois de alta de apenas 1,5% em 2013. Aqui estão os preços da gasolina, para o qual o BC não apresentou projeção, e outras tarifas, como energia, que já se sabe terá reajustes mais marcados. O BC estima alta de 9,5% para energia.

    Em função dessa incerteza e da ausência de ancoragem de expectativas, parte do mercado acredita que o BC está fazendo apenas uma pausa no ciclo de aperto. A consulta feita pelo Valor com os 42 economistas mostra que as expetativas para a taxa Selic no fim de 2014 se dividem em quatro grandes grupos que preveem percentuais entre 11% a 12%. Para 2015, não há consenso algum, com projeções variando de 9,5% a 13,5%. O Focus aponta Selic em 12% no fim de 2015, para um IPCA de 6%.

    No lado fiscal, a visão da autoridade monetária é de impulso fiscal neutro neste e no próximo ano. No lado do crédito, a avaliação é de moderação, algo que se observa no crédito privado e após ordens do governo federal há uma desaceleração na concessão de empréstimos pelos bancos públicos, tirando o BNDES da conta.

     

    Fonte: Valor Econômico

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