Copom sinaliza nova alta da Selic

    Por Alex Ribeiro e Eduardo Campos | De Brasília

    Contando com uma possível ajuda da política fiscal, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinalizou na ata da sua reunião da semana passada, divulgada ontem, que vai manter sua estratégia traçada de aumento do juro básico, a despeito da mais recente rodada de depreciação cambial.

    A política fiscal, que desde janeiro era claramente apontada como expansionista, dificultando o controle da inflação, agora é vista pelo comitê como possivelmente neutra, o que significa que deixaria de atrapalhar.

    O Copom, que na semana passada subiu o juro básico de 8,5% ao ano para 9% ao ano, indicou que a queda recente da inflação medida pelo IPCA e a menor disseminação dos aumentos de preços não eliminam o risco inflacionário. “O Copom pondera que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos 12 meses contribui para que a inflação mostre resistência”, alertou a ata.

    O dólar subiu de R$ 2,25 para R$ 2,40 entre as reuniões de julho e agosto do Copom, mas isso não levou a nenhuma alteração no cenário traçado pelo BC para os repasses a preços dessa variação cambial. O colegiado segue afirmado que o dólar mais caro constitui fonte de pressão inflacionária no curto prazo, mas pondera que a sua propagação para uma alta mais geral de preços na economia em prazos mais longos pode ser limitada “pela adequada condução da política monetária”. Mais recentemente, a taxa de câmbio recuou, fechando em R$ 2,32 ontem, em grande parte devido a um programa de leilões cambiais de US$ 55 bilhões anunciado pelo Banco Central há duas semanas.

    O Copom também se mostrou levemente menos pessimista sobre o risco de a queda da confiança de empresas e famílias interromper a trajetória de gradual recuperação da economia. Na reunião de julho, o colegiado falava da necessidade de uma “reversão tempestiva” da queda da confiança. Agora, citou a necessidade de “fortalecimento”.

    Segundo indicadores de confiança, consumidores e empresas se retraíram devido aos protestos nas ruas em junho, às indicações de mudança na política monetária americana e às incertezas sobre a gestão econômica do governo. “O Comitê nota que a velocidade de materialização desses ganhos esperados [na recuperação da atividade] depende do fortalecimento da confiança de firmas e famílias”, diz a ata.

    A ata do Copom indica que o colegiado vai seguir o roteiro já sinalizado de aperto monetário. De forma geral, os analista econômicos preveem mais uma alta do juro básico em outubro, de 0,5 ponto percentual, que poderá ser seguida de outra de 0,25 ponto percentual em novembro. Assim, a meta da taxa Selic terminaria o ano em 9,75% ao ano. No atual ciclo de contenção monetária, iniciado em abril, a alta acumulada até agora é de 1,75 ponto percentual. Na ata, o Copom reafirma que se mantém vigilante para mudar a estratégia caso se torne necessário.

    Um dos pontos mais polêmicos da ata foi a mudança da visão do BC sobre a instância da política fiscal, de expansionista para possivelmente neutra. “Criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”, diz a ata. O documento anterior, de julho, sustentava que “iniciativas recentes apontam o balanço do setor público em posição expansionista”.

    Desde janeiro, o Copom qualificava a política fiscal como expansionista, depois de alertar, em fins de 2012, que ela se deslocava “de uma posição de neutralidade para expansionista”.

    O Copom não esclarece na ata o que levou, agora, a essa mudança de avaliação sobre a política fiscal. No trecho do documento que detalha o seu cenário central para as projeções de inflação, o Copom informa apenas que trabalha com parâmetros fiscais de leis orçamentarias,

    Recentemente, o governo anunciou algumas medidas de contenção fiscal, com um corte de R$ 10 bilhões na execução orçamentária. Mas, de forma geral, o mercado financeiro não tem demonstrado muita confiança no cumprimento das metas. A projeção mediana dos analistas econômicos coletada no boletim Focus do Banco Central é de um superávit primário de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 e de 1,4% do PIB em 2014, nos dois casos mais baixo do que as metas, respectivamente de 2,3% do PIB e do 2,1% do PIB.

    A ata indica que a queda recente do IPCA mensal não mudou o cenário de risco inflacionário traçado pelo Copom nas reuniões anteriores, que levou ao atual ciclo de aperto monetário. O IPCA de julho foi de 0,03%, e o IPCA-15 de agosto ficou em 0,16%. A dispersão dos aumentos de preços recuou para percentuais entre 55% e 60%.

    Na ata, o Copom incorpora esses ganhos, ao suprimir referência contida em documentos anteriores que falavam de “nível elevado de inflação” e “dispersão de aumentos de preços”. Por outro lado, o documento cita os riscos da alta inflação apurada nos últimos 12 meses (6,27%, em julho) e a deterioração das expectativas inflacionárias.

    A ata informa que, a despeito da desvalorização cambial, as projeções de inflação do Copom não subiram no chamado cenário de referência para 2013 e 2014. Ele usa como hipótese a manutenção do dólar nos R$ 2,40 vigentes às vésperas da reunião da semana passada e o juro básico, então em 8,5% ao ano. Houve alta, porém, no chamado cenário de mercado, tanto para 2013 quanto para 2014.

    Analistas econômicos questionaram a validade dessas projeções, que entre suas premissas adota a hipótese de não haver novos reajustes nos preços dos combustíveis neste ano. Para eles, são grandes as chances de uma majoração dessas tarifas, em virtude da alta do dólar.

    Em todos os cenários contemplados, informa a ata, a inflação projetada está acima do centro da meta de inflação, definido em 4,5%, até o segundo trimestre de 2015. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já indicou que neste ano persegue uma meta informal de uma inflação menor do que os 5,84% apurados em 2012. Para o ano que vem, a meta é manter a tendência de queda do IPCA, o índice oficial do regime de metas de inflação. Dirigentes do BC ainda não esclareceram quando pretendem cumprir o centro da meta, de 4,5%, nem definiram um objetivo informal para 2015.

    A avaliação do Copom sobre o quadro externo não mudou de uma reunião para outra. Os membros do colegiado continuam avaliando que os riscos para estabilidade financeira global permanecem elevados. Para o BC, apesar da baixa probabilidade de eventos extremos nos mercados financeiros internacionais, “o ambiente externo permanece complexo”.

     

    Fonte: Valor Econômico

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