Copom vê pequeno avanço no controle da inflação

    Os progressos no combate à inflação têm sido lentos e tardios. Mas não deixa de ser um bom sinal a afirmativa feita na ata da última reunião do Comitê de política monetária (Copom) do Banco CENTRAL, divulgada na semana passada, de que finalmente a inflação entrará em trajetória de convergência à meta, de 4,5%, nos primeiros trimestres de 2016.

    Quando interrompeu o ciclo de alta de juros, em maio, o Banco CENTRAL já havia sinalizado que não seria possível cumprir o objetivo fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) até 2015. Na melhor das hipóteses, a inflação caminharia para a meta em 2016, ainda assim sem muita certeza.

    Seus documentos oficiais vinham dizendo, de forma oblíqua, que a inflação “tenderia” a entrar em convergência para a trajetória de metas. As projeções apresentadas no Relatório Trimestral de Inflação de junho apontavam uma variação entre 5% e 5,1% do Indice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho de 2016, fim do horizonte relevante da política monetária.

    Na ata da semana passada, o Copom informou pela primeira vez que os seus modelos de projeção indicam que a inflação entra em trajetória de convergência à meta nos trimestres iniciais de 2016. É bem provável que o Relatório de Inflação de setembro, que será divulgado dentro de algumas semanas, mostre uma variação do IPCA mais próxima de 4,5%.

    Banco CENTRAL, na ata, também deixa de qualificar a inflação como “resistente”. O adjetivo vinha sendo usado desde janeiro de 2013, quando a autoridade monetária começou a sinalizar o início do atual ciclo de aperto na taxa básica de juros. No começo do ano, a resistência maior do que a esperada dos preços foi um dos motivos apontados pelo Copom para subir os juros mais do que o mercado financeiro antecipava.

    A ata diz ainda que, na avaliação do Banco CENTRAL, a chamada absorção doméstica (consumo, investimentos e gastos do governo) já passou a crescer em linha com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB), atenuando as pressões inflacionárias.

    A batalha contra a escalada de preços, no entanto, está longe de ser ganha. A variação do IPCA acumulada no período de um ano até agosto foi de 6,51%, ficando no limite admitido pelo regime de metas para a inflação pelo terceiro mês seguido. Poucos, além do Banco CENTRAL, acreditam que a inflação irá caminhar para a meta em 2016. A projeção mediana do mercado é uma variação do IPCA de 5,5% naquele ano. Para colher esse pequeno progresso em relação à inflação de 6,3% esperada para 2014 e 2015, será necessário subir os juros ainda mais, preveem os analistas econômicos.

    Seguramente, a alta de juros básicos, que somou 3,75 pontos percentuais entre abril de 2013 e de 2014, está surtindo efeitos para desacelerar a economia. Sua transmissão plena para a inflação, no entanto, está sendo obstruída pelos sinais contraditórios emitidos pelas políticas fiscal, cambial e de realinhamento de preços administrados.

    O adiamento de reajustes inevitáveis de preços, como gasolina, eletricidade e transportes públicos, dificulta ao Banco CENTRAL coordenar as expectativas do mercado. Os economistas privados esperam uma alta de 7% nas tarifas em 2015 e de 5,75% em 2016, bem acima do centro da meta.

    Banco CENTRAL repete nas atas do Copom desde agosto do ano passado que “criam-se condições para que, no horizonte relevante para apolítica monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”, sem que essas condições sejam de fato criadas. Até julho, o BC ainda esperava que essa possível política fiscal neutra pudesse ajudar a equilibrar a demanda e a oferta. O equilíbrio ocorreu sem a ajuda da política fiscal, o que significa que está havendo uma sobrecarga no setor privado, sobretudo nos investimentos, que estão em queda neste ano.

    As intervenções do Banco CENTRAL na taxa de câmbio, que chegam perto de US$ 100 bilhões, também dificultam domar as expectativas. Para os analistas privados, parece inevitável que o real tenha que se desvalorizar diante da normalização das condições monetárias nos Estados Unidos. Eles preveem que o dólar irá subir a R$ 2,44 no fim do ano que vem.

    Ao deixar sem coordenação as políticas fiscal, cambial, monetária e de reajustes de tarifas, o governo eleva os custos de baixar a inflação e colhe resultados incertos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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