Desconfiança leva dólar a R$ 2,33 e pune turista

    Mercado puxa a moeda norte-americana para cima, encarece viagens internacionais e põe mais lenha na inflação. Especialistas recomendam cautela e aconselham os consumidores que forem ao exterior a evitar despesas desnecessárias, sobretudo no cartão de crédito

    DECO BANCILLON

     

    A disparada do dólar sobre o real virou sinônimo de preocupação para quem planeja viajar ao exterior no Natal e no ano-novo. Em um intervalo de pouco mais de 20 dias, a cotação da moeda norte-americana avançou 7%, saindo da mínima de R$ 2,16, em 17 de outubro, para R$ 2,330 ontem, com alta de 0,51% no dia. “A tendência é de que a divisa continue subindo, podendo atingir R$ 2,40 até o fim do ano”, disse Sidnei Nehme, economista da NGO Corretora. Além da demanda maior por dólar para as viagens, neste período, as empresas multinacionais que atuam no país correm atrás da moeda para fechar os balanços e fazer remessas de lucros aos países de origem.

    Segundo os especialistas, os brasileiros estão pagando mais caro pelo dólar, devido ao descontrole das contas públicas do país, que minou a confiança dos investidores, e à perspectiva de redução de estímulos à economia dos Estados Unidos. Diante desse quadro, quem tem viagem marcada deve redobrar a atenção com os gastos. A dica de especialistas é colocar, na ponta do lápis, não só as despesas principais, como passagem aérea e hospedagem, mas também os gastos diários com alimentação, transporte e passeios. “Todo cuidado é pouco para não fazer da viagem de férias um pesadelo para o bolso”, avisou a especialista em planejamento financeiro Letícia Camargo.

    O alerta maior vai para brasileiros que buscam pechinchas. “Tive um cliente que viajou para os EUA e se encantou com as liquidações nas lojas. Resultado: comprou 10 calças e 20 camisas, sem precisar”, contou Letícia, que apontou as compras por impulso como um dos maiores desafios para quem pretende manter a situação financeira equilibrada. “É importante que a pessoa se imponha limites. Se ela gasta mais do que pode, quando voltar de viagem acabará entrando no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito, com juros elevadíssimos. Aí o barato acaba custando caro”, disse.

    O mesmo conselho é dado pelo superintendente de câmbio da Intercam Corretora, Jaime Ferreira, que recomenda planejamento na compra de moedas estrangeiras. “Se a viagem ao exterior for apenas para o primeiro semestre de 2014, eu diria ao consumidor esperar um pouco para comprar dólar, porque a tendência atual é de alta”, assinalou. Nehme, da NGO Corretora, ponderou, contudo, que mesmo os que deixarem a aquisição de divisas para o ano que vem devem estar atentos às cotações. “Acredito que o dólar fechará este ano entre R$ 2,35 e R$ 2,40. No primeiro semestre de 2014, deve chegar a R$ 2,50. Então, não tem jeito. É ir comprando aos poucos para amenizar a disparada das cotações”, aconselhou.

     

    Leilões do BC

    Com o Brasil dando mau exemplo nas contas públicas, em pouco mais de três meses o dólar fez um verdadeiro zigue-zague e se tornou uma ameaça real à inflação. Em 21 de agosto, atingiu o patamar mais alto em cinco anos: R$ 2,45. No dia seguinte, o Banco Central anunciou um plano de venda da moeda no mercado, batizado de ração diária. De segunda a quinta-feira, a autoridade monetária faz leilões diários no mercado futuro (swap), de US$ 500 milhões cada um. Às sextas-feiras, injeta mais US$ 1 bilhão por meio de leilões de linha, uma venda de moeda com compromisso de recompra em uma data pré-determinada.

    O plano surtiu efeito imediato. Dia após dia, o dólar seguiu ladeira abaixo, até atingir a mínima de R$ 2,161, em 17 de outubro, quando o BC mudou a estratégia de ação no câmbio. Naquele dia, a autoridade monetária atrasou, sem explicação, por mais de seis horas o comunicado que fazia, religiosamente, às 14h30 sobre a venda diária que realizaria no dia seguinte.

    Mas, pressionado pelo Palácio do Planalto, o BC decidiu rever a estratégia. A primeira mudança foi não rolar integralmente contratos de dólar que venceriam no início de novembro. Com isso, a divisa dos EUA, que seguia em queda livre, inverteu a tendência e passou a subir, até atingir os R$ 2,330 de ontem. Após o fechamento do mercado, a autoridade monetária anunciou que antecipou, para hoje, a renovação do primeiro lote, de 20 mil contratos de swap que vencem no início de dezembro, totalizando US$ 10,1 bilhões.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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