Dilma antecipa revisão do PIB de 2012: de 0,9% para 1,5%

    Fernanda Nunes

    Economistas e analistas de mercado foram surpreendidos ontem com a informação da presidenta Dilma Rousseff, para o jornal espanhol “El País”, da revisão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012, de 0,9% para 1,5% — uma alta de 0,6 ponto percentual. “Umdesati-no”, afirma o presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, Claudio Frischtak. “A informação mexe com o mercado e privilegia os leitores de um único jornal, e ainda estrangeiro”, ressalta o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) Armando Castelar.

    “Esta semana resolveram reavaliar o PIB. E o PIB do ano passado, que era de 0,9%, passou para 1,5%. Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB. Isso acontece com outros países também. Os Estados Unidos sempre revisam seu PIB”, afirmou Dilma ao jornal espanhol, para, em seguida, complementar que, em 2013, o crescimento será superior a 1,5%. “Resta saber quanto acima”.

    Para o diretor da Faap-SP e integrante do Conselho Federal de Economia, Luiz Alberto Machado, as declarações da presidenta Dilma ao “ElPaís” demonstram que o governo está preocupado em passar ao mercado notícias que transmi-tamconfiança. “Eles querem recuperar a credibilidade da política. IBGE não se pronunciou sobre as declarações da presidenta. Limitou-se a informar que quaisquer revisões do PIB serão divulgadas na data prevista, em 3 de dezembro, mas seja qual for o efeito da revisão do PIB nas projeções de crescimento que estão sendo feitas para 2013, continuaremos crescendo abaixo dos outros países da região”, critica.

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não se pronunciou sobre as declarações da presidenta e, por meio de sua assessoria de imprensa, limitou-se a informar que quaisquer revisões do PIB serão divulgadas apenas na data prevista em calendário — em dia 3 de dezembro. Tradicionalmente, no terceiro trimestre de cada ano, o IBGE revisa o PIB do ano anterior. Essa informação não chegou a causar estranheza entre os analistas. “É usual o Brasile mesmo outros países reverem resultados”, avalia Castelar. Mesmo o fato de a revisão ter sido expressiva não chegou a impressionar. “Quando o IBGE revisou o PIB em 2007, ele aumentou 10 pontos percentuais”, lembra.

    A perplexidade do mercado foi a antecipação do anúncio pela presidenta, na frente do IBGE, instituição responsável, com exclusividade, pela divulgação dos resultados conjunturais do país, em data determinada, como previsto em lei. Apenas no fim da tarde, a Presidência da República, por meio de nota, veio a público tentar desfazer o que teria sido um mal entendido. Informou que, “na entrevista ao jornal ‘El País’, a presidenta Dilma Rousseff fez estimativa do valor de revisão do PIB de 2012 com base em estudos preliminares do Ministério da Fazenda. Segundo as informações prestadas pelo Ministério da Fazenda à Presidência, estão em curso no IBGE estudos sobre o setor de serviços que poderão concluir por uma revisão do indicador do PIB do ano passado”.

    A projeção dos efeitos de uma revisão do Produto Interno Bruto pelos economistas é divergente. Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central, Carlos Thadeu de Freitas, as mudanças metodológicas poderão ser benéficas também para a taxa de 2013, cuja projeção, segundo ele, passaria de 2,4% para 2,6%. Para Frischtak, no entanto, poderá ter efeito contrário, ao aumentar a base de comparação anual.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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