Dilma aposta em “Dida”

    Alex Ribeiro e Carolina Mandl De Brasília e São Paulo

     

    Ser um homem da confiança da presidente Dilma Rousseff foi o que levou o chefe do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, ao comando da Petrobras. Dida, como é conhecido, representa a aposta do Palácio do Planalto – aparentemente frustrada, pelo menos nas primeiras horas – num nome que acredita ter as credenciais para agradar tanto o mercado financeiro quanto o PT.

     

    Bendine, que entrou no BB como menor aprendiz, foi alçado ao cargo máximo do Banco em 2009 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, descontente com a retração na oferta de crédito feita pela instituição logo após a quebra do Banco Lehman Brothers.

     

    Ele foi mantido por Dilma, de quem se aproximou.

     

    Uma das tarefas mais importantes que desempenhou foi o corte dos juros e dos “spreads” bancários em 2012, numa ofensiva determinada por Dilma para injetar maior competição no sistema bancário. Bendine nunca negou que seguiu uma orientação do governo, mas sempre destacou que ela estava em linha com a estratégia do Banco de ganhar fatias no mercado de crédito num ambiente de queda dos juros básicos pelo BancoCENTRAL.

     

    Mais recentemente, com a queda dos lucros e o reaperto monetário, teve que rever os planos. A partir de uma correção de rota, o Banco já voltou a aumentar a taxa cobrada nos empréstimos.

     

    Bendine passou a tocar projetos típicos de governo, atendendo a ordens diretas de Dilma. “Ela gosta dele”, afirma uma fonte do governo.

     

    Por orientação do Palácio, o Banco do Brasil ampliou a sua atuação no financiamento de infraestrutura.

     

    Quando a presidente estava preocupada com a possibilidade de a burocracia emperrar a construção de 270 aeroportos regionais, telefonou diretamente para Bendine para pedir que a gestão dos processo fosse pilotada pelo Banco. O modelo foi adotado na edificação e reforma de armazéns agrícolas e casas da mulher. Agora, a divulgação do balanço do BB incorporando perdas com corrupção do escândalo da Lava-Jato é a tarefa mais imediata.

     

    Em 2014, Bendine foi alvo de denúncias no jornal “Folha de S. Paulo” por falta de declaração de dinheiro em espécie à Receita Federal e alegações feitas por um motorista de que transportava dinheiro vivo em nome dele. Na última sexta, o Ministério Público Federal em São Paulo instaurou inquérito para averiguar reportagem publicada pelo jornal sobre suposto empréstimo favorecido do BB para a apresentadora de TV Val Marchiori.

     

    Bendine negou as acusações.

     

    Fontes do BB as atribuem à disputa interna de poder no Banco.

     

    As denúncias não impediram que Bendine se tornasse uma espécie de coringa na formação do segundo mandato de Dilma. A presidente chegou a convidá-lo para presidir o BNDES. Numa reunião há duas semana, ficou decidido que ele permaneceria temporariamente no BB para ajudar a restabelecer os fluxos de financiamento à Sete Brasil, uma empresa contratada pela Petrobras para construir plataformas de petróleo que foi citada no escândalo Lava-Jato.

     

    Para o Planalto, Bendine, que foi representante do BB na Febraban e vice-presidente de varejo da instituição, tem bons contatos no mercado financeiro. Sua boa interlocução com o PT, por outro lado, derrubaria resistências no partido, que rejeitou nomes de mercado que acha ter inclinações privatizantes, como o Paulo Leme, da Goldman Sachs. A queda de quase 10% nas ações da Petrobras e as reações de petistas em encontro do partido em Belo Horizonte colocam em xeque essa avaliação.

     

    Em 2009, a escolha de Bendine para chefiar o BB também causou frustração. As ações do Banco caíram 11% em um só dia, com receios de ingerência política na administração.

     

    Não ajudou ele ter substituído Antônio Francisco Lima Neto, que tinha uma boa reputação no mercado – tanto que foi presidir um Bancoprivado, o Fibra.

     

    Bendine tem trânsito com o PT, mas não é filiado ao partido. A diretoria colegiada do BB tinha outros executivos com laços históricos com o partido que cobiçavam o comando, que saíram logo em seguida após serem preteridos.

     

    Bendine escolheu nomes de sua confiança para algumas das principais vice-presidências, todos técnicos, que alçaram voos mais altos.

     

    É o caso de Paulo Rogério Caffarelli, que depois virou secretário-executivo da Fazenda; Alexandre Abreu, que agora será presidente do BB; e Ivan Monteiro, que será diretor de finanças da Petrobras.

     

    Uma fonte próxima de Bendine diz que, com sua escolha, a presidente Dilma procura levar à Petrobras um pouco da governança do BB, que passou por uma reformulação nas duas últimas décadas, depois de registrar prejuízos financeiros na década de 1990.

     

    Quando chegou ao poder, essa mudança já estava consolidada, mas Bendine cresceu na instituição com essa cultura. “A Petrobras não tem problemas para produzir petróleo. Os quadros técnicos são muito competentes”, afirma. “O problema é administrativo, e nisso Bendine pode ajudar.” Para analistas, na medida daquilo que seria possível de se fazer à frente de um Banco controlado pela União, Aldemir Bendine fez uma boa gestão do BB. Ele deixa um legado importante para o Banco, principalmente na área de seguros e de cartões. No período mais recente do BB, foi o presidente mais longevo do Banco nos quase seis anos em que esteve no cargo.

     

    Depois de reestruturar a área de seguros, previdência e capitalização, o BB levou a BB Seguridade à bolsa de valores em 2013, naquela que foi a maior abertura de capital do mundo daquele ano. A operação movimentou R$ 11,5 bilhões. Em cartões, o BB conseguiu encostar no Bradesco em número de cartões emitidos.

     

    Juntos ambos os bancos também tocam, por exemplo, um projeto de construção de uma bandeira de cartão nacional, a Elo, para competir com as gigantes Visa e Mastercard.

     

    Para quem está fora do Banco é difícil precisar o quanto das bem-sucedidas estratégias do BB se devem à liderança de Bendine ou de quem está imediatamente abaixo dele no Banco, principalmente os vice-presidente Abreu, Monteiro e Caffarelli.

     

    Bendine pouco falava pelo Banco publicamente. Não ia, por exemplo, a reunião com investidores.

     

    Pouco concedeu entrevistas.

     

    Por isso para analistas é difícil saber o quanto do mérito dos negócios de êxito do BB se devem a ele. Em outros bancos, como Bradesco e Itaú Unibanco, os presidentes têm um papel mais ativo da porta para fora.

     

    Com os investidores, a interlocução do BB se dava por meio de Monteiro. Era ele quem vendia a imagem e a estratégia do Banco aos compradores de ações e de papéis de renda fixa. Desde 2009 na vice-presidência financeira do BB, Monteiro conquistou confiança no mercado. Tem uma credibilidade que pode ser fundamental para a Petrobras neste momento.

     

    Fonte: Valor Econômico

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