Dilma: Brasil está livre de “pneumonia”

    Presidente reconhece que país sentirá a tormenta provocada pela mudança da política monetária nos EUA, mas assegura que espirro lá não vira doença aqui

    ROSANA HESSEL
    VICTOR MARTINS

    O governo brasileiro se antecipou à decisão do Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, de reduzir gradualmente os estímulos à economia daquele país e fez questão de mostrar otimismo sobre o assunto. Por duas vezes, a presidente Dilma Rousseff garantiu ontem que o Brasil tem condições de enfrentar com tranquilidade a mudança na política monetária expansionista dos Estados Unidos. “Nós não estamos mais naquela fase que o pessoal dizia: espirrou nos EUA, pneumonia no Brasil”, assegurou.

    Ela admitiu, porém, que, em um primeiro momento, o Brasil poderá sentir os efeitos do corte de recursos do Fed, mas defendeu que o Banco Central brasileiro está preparado para enfrentar o impacto da medida. “A nossa dívida líquida sobre o PIB (Produto Interno Bruto) é uma das menores do mundo, e isso permite que tenhamos fôlego para sair de forma sustentável desse processo, porque a inflação está sob controle e temos nossas reservas e um BC capaz de operar para fazer essa transição mais suavemente possível”, explicou durante um café da manhã com jornalista. “Estamos preparados para a tormenta”, emendou.

    A exemplo dos Estados Unidos, o Brasil começará a minimizar as medidas de estímulos à economia, disse Dilma, sem detalhar quais. Mas as reduções tributárias sobre as folhas de pagamento de empresas de vários setores serão mantidas. “Diante da crise, os governos são levados a fazer coisas não comuns em tempos normais, e (nesse contexto) uma política anticíclica foi praticada no Brasil”, comentou. “Tem uma parte dela que vai ser permanente, como a desoneração da folha de pagamento”, adiantou.

    No Ministério da Fazenda, o chefe da pasta, Guido Mantega, detalhou que, pelo menos até dezembro de 2014, os 50 setores beneficiados pelo desconto de tributos na folha de pagamentos têm o incentivo garantido. “Se outros governos quiserem continuar a desoneração, será ótimo para o país”, disse, destacando que a medida elevou a produtividade das empresas em 2,7% neste ano e garantiu empregos.

    PIB maior
    Dilma e Mantega comentaram ainda, em um discurso alinhado, sobre um assunto espinhoso para o governo que são as contas públicas. Ambos evitaram revelar qual será a meta do superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública) em 2014. Ela reforçou que o Brasil “tem tido um excelente desempenho nessa questão”, está entre as seis economias que conseguem fazê-lo e que a equipe econômica está avaliando as variáveis para estipular a meta. “Não há um número. Quando começar o ano, vamos ver. Será um fiscal suficiente para baixar a relação da dívida líquida com o PIB”, justificou Mantega.

    Mesmo cautelosa, a presidente garantiu que o crescimento da economia neste ano ficará “em torno de 2%, 2 e pouco”. “Isso nós temos condições de afirmar porque os números praticamente apontam nessa direção”, afirmou. Dilma chegou a ponderar que a retração da expansão do PIB não é um problema só do Brasil, mas do mundo, “mesmo daqueles (países) que eram considerados especialíssimos”, como o México. Para Mantega, o PIB de 2014 será melhor que o de 2013, em torno de 2,5%. “Não sei se dá para chegar aos 4%, mas dá para fazer mais que neste ano”, arrematou.

    » Recorde de dívidas

    O endividamento das famílias em dezembro recuou ante novembro — de 63,2% para 62,2% —, mas foi o maior para o último mês do ano desde 2010, início da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC). “Há um perfil mais favorável para as dívidas, porém as famílias continuaram tomando crédito e vão começar 2014 mais endividadas”, disse a economista da CNC Marianne Hanson. 

     

    Fonte: Correio Braziliense

    Matéria anteriorOs perigos da indexação
    Matéria seguinteReforma em fevereiro