Dilma manda equipe defender política fiscal

    GOVERNO DIZ SE SENTIR ‘ABANDONADO’ PELO SETOR PRODUTIVO APÓS PROMOVER DESONERAÇÕES A PEDIDO DE EMPRESÁRIOS

    Ministros atribuem superavit primário fraco justamente à redução de tributos, além do PIB baixo

    NATUZA NERY
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    Para enfrentar críticas ao desempenho dos gastos públicos federais, Dilma Rousseff determinou que sua equipe se empenhe na defesa da política fiscal, um debate em que o governo se ressente de ter sido “abandonado” pelo setor produtivo.

    Nos bastidores, integrantes do primeiro escalão dizem que o Executivo promoveu uma agressiva agenda de desonerações a pedido de empresários e que isso pesou no superavit primário (economia para abater a dívida pública).

    Argumentam que, à época do início das reduções de tributos, em 2011, vários representantes do mercado diziam aceitar um desempenho fiscal menor desde que o gasto privilegiasse investimentos e estímulos ao setor produtivo.

    Diante das críticas, acentuadas na semana passada após a frustrante performance do superavit primário de janeiro a setembro –queda de 49%–, os principais ministros da Esplanada entraram em campo. Para cumprir a meta, o governo terá de economizar R$ 45 bilhões até dezembro, missão considerada árdua pelo mercado.

    Tanto o titular da Fazenda, Guido Mantega, como a da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, vieram a público repetir, com números, não haver alarme fiscal à vista.

    Nas declarações, dizem que a dívida pública segue estável e que não houve aumento de despesas com pessoal durante os três anos de Dilma na Presidência da República.

    Na visão do Executivo, as desonerações devem gerar impacto de R$ 80 bilhões neste ano e explicam, ao lado do fraco crescimento do PIB, o resultado inferior.

    CULPA DA IMPRENSA

    Enquanto, reservadamente, interlocutores presidenciais afirmam serem “injustas” as críticas dos operadores de mercado, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, declarou ao jornal “Estado de S. Paulo” que a política fiscal brasileira está “sob ataque especulativo”, atribuindo à imprensa esse ataque.

    No empresariado, a crítica é que as desonerações foram dirigidas a setores específicos da economia e não geraram o impacto desejável de fazer a economia crescer.

    A necessidade de fazer uma defesa mais enfática da agenda econômica partiu de conclusão, feita pela cúpula do governo e demais conselheiros políticos –Lula à frente–, segundo a qual é preciso evitar que o noticiário negativo contamine a expectativa de futuro do eleitor.

    Segundo a Folha apurou, esse posicionamento é embasado em pesquisas internas.

    Embora os resultados sejam positivos, afirmam interlocutores, o grupo enxergou nas sondagens elementos que indicam risco de pessimismo maior em relação ao futuro, daí a ordem de fazer o “enfrentamento” por meio da mídia.

     

    Fonte: Folha de S.Paulo

     

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