FALTA AUTORIZAÇÃO DA JUSTIÇA PARA QUE ELE POSSA DEIXAR O PRESÍDIO TODOS OS DIAS PARA TRABALHAR DAS 8H ÀS 17H
Com 424 quartos, Saint Peter, que já foi do ex-deputado Sérgio Naya, hoje é de empresário do ramo das comunicações
MATHEUS LEITÃO, SEVERINO MOTTA E FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA
Mesmo preso do regime semiaberto, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi contratado para ganhar R$ 20 mil por mês como gerente administrativo do hotel Saint Peter, área central de Brasília.
O contrato com o salário e o cargo já foi assinado na carteira de trabalho de Dirceu e enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal) com um pedido de ok. A corte informou que a autorização final será da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal.
Caso receba autorização, Dirceu terá que deixar a prisão todos os dias para cumprir jornada das 8h às 17h. Em horário de almoço, poderá se deslocar até cem metros do local de trabalho.
Na petição, a defesa de Dirceu diz que ele pleiteou o emprego três dias após a prisão, e, recentemente, o conseguiu.
Dirceu preencheu uma ficha de “solicitação de emprego”. Afirmou que candidatou-se por “necessidade” e por “apreciar hotelaria e a área administrativa”. Informou ainda que é “católico”, pratica caminhadas como esporte e, nas horas vagas, gosta de ler, viajar e assistir a filmes.
No mercado de Brasília, o salário para o cargo que Dirceu poderá exercer varia entre R$ 8 mil e R$ 12 mil.
O advogado de Dirceu, José Luis Oliveira Lima, disse que trata só das questões jurídicas de seu cliente, por isso não comentaria o valor do salário que, segundo ele, foi resultado de uma negociação com o empregador.
Ele ressaltou, no entanto, que a experiência de Dirceu é um diferencial. “Quem administrou a Casa Civil, ministério mais importante da Esplanada, tem uma competência inegável”, disse.
O contrato de Dirceu é assinado pela gerente-geral do hotel, Valéria Linhares. Na carteira de trabalho de Valéria, anexada à petição, consta que ela recebe bem menos do que poderá receber seu possível futuro colega de trabalho: R$ 1.800 por mês.
Condenado a 10 anos e 10 meses de prisão no mensalão, Dirceu cumpre inicialmente uma pena de 7 anos e 11 meses pelo crime de corrupção.
Segundo o Código Penal, o trabalho externo é “admissível” aos condenados no semiaberto. Cabe à defesa apresentar ao juiz a proposta de emprego, na qual o empregador aceita as restrições impostas ao trabalhador quanto à jornada e à locomoção.
Com 424 quartos, 16 andares e diárias que variam entre R$ 330 e R$ 1.200, o Saint Peter já foi de Sérgio Naya, deputado cassado e preso por causa do desabamento do edifício Palace 2, no Rio.
Hoje, pertence a três sócios: Paulo Masci de Abreu, empresário do ramo das comunicação, Raul de Abreu, seu filho, e a empresa Truston International Inc, com sede no Panamá. Raul é procurador da Truston.
A advogada do hotel, Rosane Ribeiro, afirmou que não há relação de amizade entre os sócios e o condenado. Segundo ela, o hotel foi procurado por Dirceu, verificou que ele poderia exercer a função e o contratou, “já que o preso tem o direito”.
Fonte: Folha de S.Paulo