Por José de Castro | De São Paulo
O dólar registrou expressiva valorização de 4,24% ante o real na semana passada, alcançando R$ 2,3342, mais forte nível de fechamento desde março, quando a moeda rondava os R$ 2,35. Esse cenário de crescente volatilidade esquentou o debate no mercado sobre se seria possível (ou necessário) o Banco CENTRAL estender seu programa de intervenções, por meio da oferta de swaps cambiais, para além de 2014. Ao menos por enquanto, a autoridade monetária não anunciou alterações em sua programação.
A possibilidade de término do programa de venda de swaps pelo BC no início do próximo ano ainda é reforçada pela leitura de que o aperto monetário nos Estados Unidos, esperado para começar em meados de 2015, não deve provocar a mesma onda de volatilidade e tensão gerada anteriormente. Além disso, as empresas privadas estão, de forma geral, com suas dívidas em dólar protegidas, o que tornaria a continuidade do programa nos atuais moldes menos urgente.
Isso não significa, contudo, que o BC permitirá que o ajuste do dólar aconteça de forma abrupta, dado o impacto do movimento sobre a inflação, que tende a ficar mais alta no começo de 2015 devido à expectativa de uma série de reajustes em preços administrados.
Na sexta-feira, chegou a circular pelo mercado um post do “Correio Braziliense” apontando que os leilões de swap cambial poderiam ser estendidos para além de 2014. A nota citava “fonte de governo” e “um dos mais influentes assessores da presidência” como origem de tal informação, que coloca que o “desmonte dos swaps da noite para o dia, como defendem alguns, provocará um estrago no mercado e na inflação”. O intento do rumor era óbvio: tentar acalmar os ânimos em um pregão no qual o preço do dólar chegou a subir mais de 2% na máxima do dia.
De qualquer forma, a escalada da moeda americana na semana passada ainda não foi motivo para os agentes financeiros alterarem as projeções para a taxa de câmbio. Na visão do mercado, as intervenções do Banco CENTRAL, a forte posição comprada em dólar (aposta na alta da moeda) dos estrangeiros e a magnitude do movimento da semana já chamam uma correção. De toda forma, um dólar mais próximo de R$ 2,20, como o visto há menos de duas semanas, por ora sai do radar, diante da perspectiva de maior volatilidade.
O J.P. Morgan, por exemplo, manteve a previsão de que o dólar terminará este ano em R$ 2,60. Com a possibilidade de um novo governo ser menos intervencionista, a instituição diz acreditar que o BC deve começar a desmontar o programa de swaps ao interromper as vendas diárias desses contratos. “Acreditamos que um governo mais amigável ao mercado vai permitir que o dólar oscile num nível mais alto por meio de uma redução no estoque de swaps. Enquanto isso, a atual administração deve buscar um câmbio mais depreciado, embora mantenha a intervenção no mercado cambial”, afirmam os estrategistas de câmbio do Banco.
Parte do investidores ainda se mostra cética com uma intensificação das rolagens dos contratos de swap vincendos, pela leitura de que o BC só interviria mais forte no caso de o real descolar de seus pares. A moeda americana tem se apreciado de forma geral em relação às principais divisas dos países desenvolvidos e emergentes. No caso do real, o fator eleitoral – especialmente o avanço de Dilma Rousseff (PT) nas últimas pesquisas – tem trazido pressão extra às cotações, como ocorreu na sexta.
(Colaborou Eduardo Campos)