Em 2015, o real já recuou 8,10% ante a divisa dos EUA. Foi a segunda maior desvalorização em todo o mundo. Para analistas, cotação chegará a R$ 3,20 até dezembro
O dólar continua em disparada. Ontem, subiu mais 1,33% e terminou o dia cotada a R$ 2,874, o maior valor desde 25 de outubro de 2004. No acumulado de 2015, o real é a segunda moeda que mais se desvalorizou diante da divisa norte-americana, com perdas de 8,10%, de acordo com o portal de informações financeiras Moneyou. Apenas o dólar canadense caiu mais no período – 8,79%. A deterioração dos indicadores econômicos do Brasil fez a moeda nacional ter desempenho pior que o do rublo, da Rússia, e da coroa, da República Tcheca, que registram quedas de 7,72% e 7,12%, respectivamente.
O dólar tem se valorizado no país apesar de o fluxo cambial – balanço entre a entrada e a saída de divisas do país – estar positivo em mais de US$ 4,7 bilhões neste ano. O economista Jason Vieira, do site Moneyou, explicou que o dólar está em alta no mundo todo devido a fatores como as incertezas sobre a permanência da Grécia na Zona do Euro e a expectativa de que os Estados Unidos elevem a taxa de jurosantes do previsto. No Brasil, contudo, a elevação tem sido acentuada por preocupações sobre a piora nos fundamentos macroeconômicos do país. O mercado teme que a fragilidade da economia provoque a perda do grau de investimento, com o rebaixamento da nota de crédito do país por agências internacionais de classificação de risco.
Especulação
Na avaliação do economista e diretor da NBO Corretora, Sidnei Nehme, a cotação do dólar no Brasil está buscando o ajuste indicado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “O ministro afirmou que não queria um dólar artificial e o mercado está buscando esse ajuste. O teto seria de R$ 2,80 no primeiro trimestre. O que está acelerando a alta para quase R$ 2,90, neste momento, é pura especulação porque não há pressão de demanda no fluxo cambial”, disse.
Para Nehme, nos próximos dias, a divisa deve recuar e, depois, oscilar em torno dos R$ 2,80, para subir, gradualmente, até o fim do ano, atingindo o máximo de R$ 3,20, que seria um patamar condizente com a situação apontada por Levy. “A equipe econômica deixou claro que não quer mais um dólar artificialmente baixo se prestando a controlar a inflação. Valorizada, a moeda norte-americana tem como ajustar alguns setores da economia”, explicou.
O especialista enumerou, entre as vantagens do dólar alto, o aumento da competitividade da indústria nacional frente aos produtos estrangeiros, a redução das importações e o melhor desempenho das exportações brasileiras. “Porém, o capital produtivo, aquele que entra no país como investimento de longo prazo, deve cair este ano. A economia está estagnada, o Brasil não cresce e se tornou pouco atrativo para os investidores”, assinalou.
Como resta ao país atrair o capital especulativo, e o Brasil é visto com alto risco nessa área, a alta da moeda norte-americana pode deixar o especulador mais confortável para aplicar por aqui, observou Nehme. “Nesse momento, não podemos nos dar ao luxo de rejeitar capital especulativo. O dólar elevado também colabora para equacionar os preços das commodities, que tiveram queda no mercado internacional. A correção cambial pode contrabalançar isso”, acrescentou.
O economista da NBO Corretora admitiu, que, além da especulação, fatores externos e internos pressionam a moeda norte-americana, como a perspectiva de aumento de juros nos Estados Unidos e o risco de o Brasil perder o grau de investimento. “O superavit primário está muito comprimido e o temor de rebaixamento é real, mas isso é mais lá para frente”, ponderou. “Não se justifica o dólar acima de R$ 2,80 neste momento, a não ser pela ação dos especuladores.”
Fluxo enfraquece
O Banco CENTRAL informou ontem que o fluxo cambial do país do ano, até 6 de fevereiro, é positivo em US$ 4,726 bilhões. No encerramento de janeiro, essa conta já somava US$ 3,903 bilhões. O resultado deste ano é melhor do que o de 2014, quando foi positivo em US$ 1,657 bilhão em igual período, porém o movimento perdeu força na última semana. Entre 2 e 6 de fevereiro, o volume de recursos que entraram no país foi US$ 823 milhões maior do que o que saiu. As operações financeiras lideraram as entradas em 2015, totalizando US$ 4,116 bilhões. Na semana passada, no entanto, houve saída líquida de US$ 1 milhão.
Fonte: Correio Braziliense