Economia encolheu 0,2% em 2014, calculam analista

    Tainara Machado De São Paulo

     

    A fraqueza da atividade econômica observada ao longo do quarto trimestre do ano passado se acentuou em dezembro e o Índice de Atividade Econômica do Banco CENTRAL (IBC-Br), que funciona como um termômetro para o Produto Interno Bruto (PIB), deve ter encerrado 2014 com queda de 0,2%, avaliam economistas. 

    Com o tombo da produção industrial e a frustração com as vendas no varejo, a média das estimativas de 17 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o índice calculado pelo BC caiu 1,15% em dezembro, após ter ficado estável em novembro, sempre na comparação com o mês anterior, feitos os ajustes sazonais. Se confirmada, a queda levará o índice de atividade do BC a recuar 0,4% entre o terceiro e o quarto trimestres, na série com ajuste. Por causa de efeitos estatísticos, o recuo no fim do ano torna mais difícil ainda que o PIB tenha expansão em 2015. 

    As projeções para dezembro variam entre -0,7% e -1,7%. No trimestre, as estimativas são de recuo de 0,2% a 0,7%. O dado será divulgado hoje pelo BC. 

    “A desaceleração da economia, que já havia sido observada nos meses anteriores, se acentuou em dezembro”, afirma Vinicius Botelho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). A continuidade do processo de ajuste de estoques, especialmente no setor automotivo, levou a produção industrial a cair 2,8% entre novembro e dezembro, observa o economista. A atividade no setor ainda é prejudicada pela necessidade de ajustes no segmento imobiliário, que está evitando contratar novas obras até vender as unidades já prontas, o que reduz a demanda por insumos típicos da construção civil. 

    Como o comércio também surpreendeu negativamente, com queda de 3,7% no conceito ampliado (que inclui a venda de automóveis e de material de construção), o Ibre estima queda de 0,77% do IBCBr entre novembro e dezembro. 

    O PIB mensal calculado pelo Itaú (PIBIU) caiu 1,5% entre novembro e dezembro, feitos os ajustes sazonais, enquanto o IBCBr diminuiu 0,7% na mesma comparação, nas estimativas do Banco

    Usando as informações do PIBIU e outros dados, o Itaú estima que o PIB oficial do IBGE ficou estagnado nos três meses encerrados em dezembro. 

    Segundo o economista Caio Megale, o último mês do ano foi muito negativo para atividade econômica.

    O desempenho positivo do varejo nos meses anteriores foi provocado por algumas antecipações de consumo, disse Megale, mas não tinha fundamentos, dado que a renda real dos trabalhadores está em desaceleração, os juros subiram, a confiança do consumidor está em patamar baixo e a inflação segue elevada. “A tendência daqui para frente é que essa acomodação continue”, comentou. 

    Natalia Cotarelli, economista do BI&P, calcula queda de 1,3% do IBCBr na passagem mensal. Para ela, o quarto trimestre foi bem pior do que era esperado, com dificuldades na indústria e queda forte do comércio em dezembro. Diante das informações disponíveis, diz, a estimativa é que o IBC-Br tenha encolhido 0,6% entre outubro e dezembro, na comparação com os três meses imediatamente anteriores. 

    Já o PIB, calculado pelo IBGE, deve ter ficado estável no período.

    “Como o trimestre foi pior do que era esperado, revisamos para zero a estimativa de crescimento da economia brasileira em 2014”. 

    Botelho, do Ibre, também estima estabilidade do PIB no quarto trimestre e em 2014. “Temos uma incerteza maior com as projeções para o último trimestre do ano, por causa de mudanças no ajuste sazonal que devem ser implementadas pelo IBGE, mas o que temos é crescimento nulo para 2014 e um PIB menor, provavelmente, em 2015”, comenta. 

    A paralisação da atividade no fim do ano passado, comenta Natalia, do BI&P, coloca uma dificuldade adicional para este ano, já que o carregamento estatístico (a taxa de crescimento que seria observada caso a economia ficasse estável ao longo do ano) deve ser negativo, diz. “Já não temos muitos elementos que vão ajudar 2015, esse é mais um que atrapalha”.

    (Colaborou Arícia Martins)

     

    Fonte: Valor Econômico

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