Economistas mostram confiança no ajuste fiscal em reunião do BC

    O cenário fiscal inspira cautela, mas um desfecho positivo – especialmente do lado da Reforma da Previdência – é o elemento que embasa a jornada mais provável nos próximos meses. Foi isso, em resumo, que diretores do Banco Central ouviram de economistas presentes ontem em reunião organizada em São Paulo. Hoje, os diretores do BC se encontram com economistas no Rio.

    Relatos de quatro participantes revelam que, de maneira geral, os economistas reconhecem riscos para a política fiscal advindos, por exemplo, do resultado das eleições presidenciais do ano que vem. Essa preocupação foi citada como motivo para a inclinação da curva de Juros – que apesar do alívio dos últimos dias segue perto de máximas recordes. Alguns presentes também vislumbram um cenário de taxa de Câmbio“um pouco mais pressionada” no primeiro semestre do ano que vem, justamente devido à ansiedade pré-eleição.

    Por outro lado, há sensação de que a gravidade das contas públicas é tamanha que obrigará o próximo governante a adotar uma agenda reformista. “Embora a eleição seja um motivo de muita ansiedade, essa incerteza não está afetando tanto as previsões porque predomina a expectativa de que haverá um ajuste fiscal, seja qual for o resultado”, diz um dos presentes.

    O entendimento de que o cenário para a economia doméstica é benigno se mostra consenso. O Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer entre 2,5% e 3% em 2018, nas contas dos economistas presentes no encontro. E alguns participantes trabalham com quadro mais positivo para a inflação no ano que vem. “Alguns veem modesta recomposição dos preços dos alimentos e a maior parte dos aumentos de administrados ficando concentrada em 2017”, diz um economista. Nesse contexto, os presentes seguem convictos de que a Taxa Básica de Juros (Selic) se manterá em patamar baixo ao longo dos próximos meses, “mesmo quem prevê juro de 6,5%”.

    Esse desenho para a economia deve ser amparado pelo cenário externo, que para os profissionais ainda representa uma “janela de oportunidade para o Brasil”. A perspectiva é que a economia global continue a crescer de forma “sincronizada”, em meio a uma inflação “tranquila”. Do lado dos riscos, o principal ponto citado foi uma subida inesperada nos salários nos Estados Unidos, que poderia levar o Federal Reserve (Fed, BC americano) a elevar mais rapidamente as taxas de Juros.

    Os diretores Tiago Berriel (assuntos internacionais e gestão de riscos corporativos) e Carlos Viana (política econômica) pouco se expressaram e, quando questionados, evitaram comentários longos. Ao serem interpelados sobre a taxa neutra de Juros, limitaram-se a responder que não sabiam em que patamar está a taxa, mas que ainda se situa em campo expansionista.

    Em outro momento, os diretores foram questionados sobre que temas mais chamam a atenção do BC. “A resposta foi: ‘Próxima pergunta!'”, relata um dos participantes. “A sensação que tive é que os economistas saíram frustrados. O BC não precisa sinalizar o que vai fazer, mas nessas reuniões deveria dar mais elementos para mais debate, e não apenas ouvir”, diz outro presente.

    O conteúdo das reuniões do BC com economistas serve de subsídio para a elaboração do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), cuja próxima edição será divulgada em dezembro.

    As reuniões em São Paulo aconteceram num dia calmo para os mercados domésticos. As taxas de Jurosnegociadas na BM&F cederam, na esteira do IPCA-15 de novembro mais baixo que o esperado. O DI janeiro de 2019 caiu a 7,12%, 6 pontos-base aquém do fechamento anterior. E o dólar cedeu 0,33%, a R$ 3,2229, quinta perda consecutiva e para a mínima em um mês.

    Fonte: VALOR ECONÔMICO

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