Novo presidente da estatal pode mudar política de conteúdo nacional nas encomendas
O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, terá a missão de arrumar o balanço da companhia, se acertar com os órgãos reguladores, sobretudo com a Securities and Exchange Comission (SEC) americana, e concluir a revisão do programa de investimentos para adequa-lo ao fluxo de caixa. Fontes oficiais garantem que a Petrobras tem recursos para atravessar este ano sem recorrer ao mercado.
O governo não cogita mexer no regime de partilha para a exploração do pré-sal, mas já admite que poderá “aperfeiçoar” a política de exigência de conteúdo nacional nas encomendas da empresa, na direção de uma flexibilização.
A primeira tarefa de Bendine, que deixou a presidência do Banco do Brasil para assumir a Petrobras, será “colocar a questão da corrupção no balanço da Petrobras”. Os cálculos das auditorias independentes, que chegaram a de R$ 88,6 bilhões em sobre valorização de ativos, foi muito criticado no governo. O não questionamento, pelo Conselho de Administração da estatal, desses dados irritou a presidente Dilma Rousseff.
Essa foi a pá de cal para a renúncia de Graça Foster e de mais cinco diretores na semana passada.
“Achamos que fizeram uma conta atrapalhada, misturaram muita coisa e chegaram a R$ 88 bilhões, dando a impressão de que tudo era corrupção”, explicou uma fonte credenciada. “O Bendine vai sentar com a PwC (PricewaterhouseCoopers) e ouvir. Ele tem grande vivência de balanço e sabe o que é possível e o que não é. Vai fazer as perguntas certas e vai desarmar a PwC. Quando se chegar a um entendimento sobre a questão do balanço da Petrobras e ele for publicado, a situação vai desanuviar. Aí as coisas vão, gradativamente, voltando à normalidade. O que vai ser muito bom para o Brasil”, acredita.
A escolha de Dilma Rousseff, porém, não agradou o mercado nem tranquilizou o PT. “O Bendine é a Graça Foster de terno”, reagiu um parlamentar do PT. “Ele vai fazer na empresa o que a Dilma mandar”, completou. O mercado também não viu na indicação o “choque de credibilidade” que a companhia precisa.
“Foi a escolha possível, diante das circunstâncias”, definiu uma alta fonte do governo, que estava envolvida no processo sucessório da empresa estatal. Um ministro arrematou: “A presidente Dilma gosta muito dele”. Não ficou claro se outros nomes foram sondados e recusaram, mas havia uma longa lista de possibilidades elaborada pelo Planalto.
O lado positivo da indicação de Bendine, conforme a avaliação de quemo conhece bem no governo, é que ” ele tem mais traquejo de mercado do que a Graça. Conhece e é conhecido aqui e lá fora e é, também, mais habilidoso que ela, mais afeito às negociações”.
Por outro lado, ele poderá repetir o erro que Graça Foster cometeu na gestão da empresa. “Graça colocou a Petrobras a serviço do governo”, observou um ex-diretor da companhia que teme que Bendine, pessoa da confiança da presidente Dilma, possa vir a cometer o mesmo pecado.
O ex-presidente Lula acompanhou muito de perto todo o processo de escolha. Fez sugestões, mas em nenhum momento cogitou de Aldemir Bendine. Os nomes que Lula preferia, segundo interlocutores que estiveram com ele , eram os de Antonio Maciel, ex-presidente da Ford, e Nildemar Secches, ex-presidente da Perdigão. O primeiro e sempre presente nas cogitações do ex-presidente, porém, era Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco CENTRAL.
Segundo fontes qualificadas do Palácio do Planalto, o governo acompanharia de perto as reações do mercado, na sexta feira, à definição de Bendine. Conforme o grau de insatisfação, poderia vir a colocar um nome forte para presidir o Conselho de Administração da Petrobras.
Nesse caso, não seria de todo improvável Lula emplacar Meirelles.
Há a intenção, também, de aproximar o conselho das decisões do dia a dia da companhia. Como fazê-lo, operacionalmente, é uma questão não resolvida.
Os demais diretores anunciados na sexta são Ivan de Souza Monteiro ( Financeiro); Solange Guedes (Exploração e Produção), Jorge Celestino Ramos (Abastecimento), Hugo Repsold Junior (Gás e Energia) e Roberto Moro ( Engenharia).
Fonte: Valor Econômico