Estimativa leva em conta necessidade de reajuste do preço e o reflexo que terá na inflação
Levantamento feito por ZH, na quinta-feira, constatou venda de gasolina por até R$ 2,899 em estabelecimentos localizados em Porto AlegreFoto: Lauro Alves / Agencia RBS
Informações de que o governo aceitou autorizar reajuste nos preços da gasolina e do diesel já fizeram os especialistas no setor projetar o efeito no bolso do consumidor. A estimativa é de um aumento ao redor de 3,8% na gasolina e em torno de 4,8% no diesel.
A maior pressão para a alta dos combustíveis vem da valorização do dólar. Nas contas de Walter de Vitto, analista do setor de petróleo da consultoria Tendências, na quarta-feira, dia em que o câmbio chegou a R$ 2,45, a defasagem entre o preço nacional e o da referência internacional para a gasolina era de 24,8%, e o do diesel, maior ainda, de 38,1%.
O especialista admite que não há necessidade de repassar toda essa diferença ao preço porque há excesso na valorização do dólar. No entanto, pondera que o câmbio não deve voltar ao patamar do início do ano, de R$ 2.
Por isso, não haveria alternativa para o governo senão autorizar um reajuste mais baixo, mas que representasse menor desequilíbrio nas contas da Petrobras. Nas projeções da Tendências, o aumento nas refinarias deve rondar os 7%, talvez um pouco mais alto para o diesel, que se traduziria, nos postos, em 3,8% na gasolina e 4,8% no diesel.
A explicação é o fato de o preço da gasolina ter alto peso – aproximadamente 3,5% – no indicador de inflação que serve de referência para o Banco Central administrar o sistema de metas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Enquanto o efeito do aumento da gasolina no IPCA é direto e imediato, o do diesel – apesar do maior contágio para os demais produtos – aparece diluído e defasado.
Segundo Rafael Costa Lima, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) na cidade de São Paulo, um aumento de 5% no preço da gasolina nas bombas teria reflexo direto de 0,175 ponto percentual no IPCA do mês.
Para a Petrobras, a perda com a falta de reajuste não é só contábil, mas real. Segundo Vitto, isso ocorre porque a estatal se tornou importadora líquida de petróleo e derivados – compra mais do que vende no Exterior. Como paga mais do que o preço a que vende, acumula prejuízo em sua principal atividade, a de venda de combustíveis.
Conforme o especialista, esse quadro é resultado de estratégias “completamente descasadas” do governo: preço da gasolina mais conveniente do que o do etanol, estímulo à compra de carros, que elevou o consumo do combustível, e freio nos reajustes da gasolina para não pressionar a inflação.
Alguns postos da capital gaúcha elevaram valor de venda
Nesta quinta-feira, Zero Hora percorreu 30 postos de combustíveis em Porto Alegre e constatou que o preço médio da gasolina é de R$ 2,793 por litro. Na semana passada, levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 90 pontos de venda apontou valor médio deR$ 2,745 do litro da gasolina na Capital. Os estabelecimentos pesquisados não são os mesmos, mas a diferença constatada na média é de 1,75%.
O custo do diesel apurado por ZH – R$ 2,316 – também é maior do que aparece na ANP – R$ 2,284. O objetivo da pesquisa da ANP é averiguar o comportamento dos preços cobrados por distribuidoras e postos para garantir a livre concorrência, já que os valores não são controlados.
O posto Nonoai, localizado na Zona Sul, foi um dos locais onde foi constatada mudança entre o valor registrado pela ANP e o levantado por ZH. O estabelecimento cobrava ontem à tarde R$ 2,799 por litro. Uma semana antes, o preço era de R$ 2,699.
– O último aumento que fizemos foi em fevereiro, quando houve alta nas refinarias. Não sei explicar por que no site da ANP aparece esse valor, R$ 0,10 menor – afirma o gerente Antônio Carlos, negando que tenha se antecipado ao anúncio do governo e reajustado o valor.
Rodrigo Serra, gerente do posto Pégasus, situado no bairro Santana, onde também foi constatada alta, nega mudança na cobrança e questiona os dados divulgados pela agência:
– Fizemos um reajuste no início do ano, mas depois disso, não. É o mesmo preço cobrado na semana passada.
Fonte: Zero Hora