FED decide sob pressão

    redação

    0 Federal Reserve (Fed) decide hoje à tarde, sob pressão de desenvolvidos e emergentes, se dá prosseguimento ao seu plano de redução das compras mensais de títulos ou se procede a uma pausa destinada a melhor avaliar o grau de independência da atividade econômica dos estímulos monetários. Os mercados americanos não têm certeza sobre qual via o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) escolherá caminhar. Também não sabe se a opção mais acertada seria manter o volume de fevereiro nos mesmos US$ 75 bilhões de janeiro ou baixá-lo para US$ 65 bilhões. Os mercados emergentes, às voltas com fragilidades internas, igualmente não têm convicção sobre a melhor alternativa.

    A preservação da liquidez no montante anterior traz apenas a ilusão de quese ganhou um tempo maior para a correção dos problemas internos. Mas a tentação de não fazer nada é grande.

    Do ponto de vista americano, se o Fomc escolher a opção por interromper momentaneamente o programa de gradual normalização monetária, transmitirá a sensação de que a crise ainda não acabou. A frustração pode abalar o ânimo dos empresários em contratar novos empréstimos e dos bancos em concedê-los. Será uma submissão do Fed aos mais recentes indicadores não tão brilhantes. A autoridade abriria mão de sua capacidade de antevisão e faria um recuo tático. Mas ela deveria aproveitar o comportamento sossegado, embora com certa apreensão, do mercado de treasuries para efetuar o novo, e segundo, corte no afrouxamento quantitativo.

    Os rendimentos dos T-Notes de 10 anos, depois de atingiremos 3% no dia 3, recuaram sensivelmente até à faixa perto de 2,70%. Ontem, oscilaram entre 2,74% e 2,79%. É muito melhor fazer um corte de liquidez quando os juros longos estão baixos do que quando estão testando máximas. Se o Fed reduz o volume de aquisições de bônus e hipotecas quando estão nos 3%, faz, na prática, um convite para que busquem patamares sucessivamente mais elevados. Como os juros longos balizam todos os demais, provocam um encarecimento do custo dos empréstimos bancários e do setor imobiliário. Tal elevação de custos age para sabotar a recuperação econômica. Surge o risco de o Fed ter de interromper o ciclo de cortes mais à frente apenas para evitar uma disparada das treasuries. Já uma redução quantitativa com os T-Notes em 2,75% produz menores consequências sobre os juros longos, menos danosas à atividade econômica.

    Apesar da sucessão de indicadores nada euforizantes, os EUA não estão mais em crise. Não estão mais exigindo a prática de políticas monetárias ultraheterodoxas. O mercado de treasuries sabe disso e, mesmo diante de dados ruins, os T-Notes já pararam de cair. Foram divulgados ontem três dados sendo que dois contrariaram, para pior, as expectativas dos analistas. O primeiro foram as encomendas de bens duráveis. Elas caíram 4,3% em dezembro, quando os analistas previam alta de 1,8%. O segundo foi a confiança do consumidor, apurada pela Universidade de Michigan. O índice cedeu para 72 em novembro, vindo de 73,2 em outubro. O mercado aguardava alta para 74,5. O terceiro veio em linha com as previsões. O índice S&P Case-Shiller de preços de residências saltou, em termos anuais, 13,71% em novembro. Na comparação mensal a evolução foi de 0,88%, ante 1,05% no mês anterior.

    Do ponto de vista dos países emergentes, o desejável seria que o Fed fizesse um corte com base na solidez dos fundamentos econômicos. Com isso, os investidores globais teriam certeza de que os EUA estão crescendo saudavelmente. A aversão ao risco, perigosa aos emergentes, atinge seu ápice quando o mercado percebe que os problemas domésticos de cada um deles poderão agravar-se em consequência de uma diminuição de atividade das economias mais desenvolvidas. Se EUA, China, Alemanha e Japão patinam, os emergentes verão suas dificuldades se agigantarem. É por isso que a melhora econômica dos centros desenvolvidos é mais favorável à resolução dos déficits e inflações dos emergentes do que a manutenção de uma liquidez especulativa geradora de bolhas.

    Na véspera do Fed, a temperatura baixou ontem nos emergentes. Não esperaram a decisão para promover mudanças destinadas a reassegurar a confiança dos investidores globais. Dois — Índia e Turquia — optaram pelo aperto monetário. A Argentina reluta em subir o juro e prefere tentativas administrativas de controle da crise. Já em um longo ciclo de alta do juro, o Brasil acertou ao optar pelo convencimento fiscal. Irá estabelecer uma meta de superávit fiscal para este ano a mais alta possível, desde que cumprível. O objetivo é de que seja um pouco mais elevada que o proje-tado1,9% do ano passado.Nãobas-ta ser executável, precisa ser crível. Será um compromisso oficial do qual não se admitirão desvios.

    Se o mercado assumir a meta como realizável — vale dizer: acreditará na vontade política do governo em alcançá-la —, o BC poderá encerrar o aperto monetário no mês que vem com elevação adicional da Selic de 0,25 ponto (desde que não haja uma correria pós-Fed). Caso contrário, novas rodadas de alta da taxa básica virão por aí.

    O mercado de câmbio permaneceu na retranca ontem, buscando o zero-a-zero. Com um giro insignificante de US$ 720 milhões, conseguiu manter o dólar quase estável. Fechou cotado a R$ 2,4265, em alta de 0,02%. No aguardo de novas notícias fiscais, o pregão de juros futuros da BM&F não gostou muito da informação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo ainda não fechou uma meta de superávit primário para o ano. A taxa mais curta, para abril, avançou de 10,49% para 10,50%. O contrato para a virada do ano terminou em 11,24%, de 11,20% na véspera. Os investidores estrangeiros, os mais numerosos e atuantes no contrato com vencimento em janeiro de 2017, estão com o dedo no gatilho à espera do Fed. A taxa saltou de 12,73% para 12,82%.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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