Turquia, Índia e Brasil se armam contra crise

    DECO BANCILLON» ROSANA HESSEL

    Alvos de desconfiança dos investidores, os mercados emergentes foram obrigados ontem a emitir sinais concretos de determinação a corrigir os problemas que estão fazendo as suas moedas derreterem. A medida mais drástica foi anunciada pelo Banco Central da Turquia, que aumentou a taxa básica de juros de 7,75% para 12% ao ano, surpreendo os especialistas, que apostavam em uma alta para, no máximo, 10%. O ajuste, de 4,25 pontos percentuais, superou todo o movimento de alta conduzido pelo BC brasileiro desde abril do ano passado, de 3,25 pontos.

    Em comunicado após a decisão, o BC turco informou que manterá a política monetária apertada, até que a inflação, que ronda os 8% , ceda para níveis mais confortáveis. O mercado temia que a autoridade monetária fosse mais comedida, diante da resistência do primeiro-ministro do país, Tayyip Erdogan, de arrochar a economia, que dá sinais de fragilidade. Tão logo o aumento radical dos juros foi anunciado, a cotação do dólar caiu de 2,25 para 2,18 liras. Desde maio do ano passado, a divisa turca recuou 21,5%.

    Pela manhã, o BC da Índia já tinha elevado os juros básicos em 0,25 ponto percentual, para 8% ao ano. O governo indiano assustou-se com a possibilidade de um ataque especulativo à rúpia, diante da iminente crise cambial na Argentina, que detonou uma onda de aversão ao risco. Coincidentemente, a Turquia e a Índia estão no grupo que os economistas chamam de os “cinco frágeis”. Os outros três são Brasil, Indonésia e África do Sul.

    Temendo o contágio do Brasil, onde o real perdeu quase 15% de valor no ano passado ante o dólar, o governo tratou de testar o mercado ao difundir, informalmente, que aumentará a meta de superavit primário deste ano de 1,1% para até 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Isso implicaria um corte entre R$ 40 bilhões e R$ 50 bilhões no Orçamento da União. Oficialmente, porém, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que nada está decidido. Ele reforçou, no entanto, que a economia para o pagamento de juros da dívida “vai manter a solidez fiscal e a estabilidade da dívida liquida brasileira”.

    Independentemente da estratégia do governo, o dólar voltou a subir ontem frente ao real. A moeda norte-americana encerrou o dia valendo R$ 2,427 para venda, 0,04% a mais que na véspera. Os investidores alegam que estão se protegendo com a divisa dos Estados Unidos, pois temem uma fuga maciça de recursos dos mercados emergentes com a redução dos estímulos dados pelo Federal Reserve, o BC dos EUA, à maior economia do planeta. A expectativa é de que a instituição anuncie hoje mais corte de US$ 10 bilhões em seu pacote mensal de compras de ativos, o que levará a injeção de recursos para US$ 65 bilhões por mês. Até dezembro do ano passado, a oferta era de US$ 85 bilhões. Nas bolsas de valores, o dia foi de alta: 0,29% em São Paulo e 0,57% em Nova York.

    Arrecadação
    De olho no movimento do Fed e na crise vivida pela Argentina, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff espera anunciar, ainda na primeira quinzena de fevereiro, o corte no Orçamento e a nova meta de superavit primário. O martelo não foi batido porque o principal dado para o fechamento dos números, a arrecadação de janeiro, só estará disponível na sexta-feira à noite, quando se terá uma planilha com os dados preliminares que normalmente só são divulgados depois do 20º dia do mês seguinte.

    Mantega fez uma reunião com seus secretários na última segunda-feira e distribuiu os trabalhos. O primeiro resultado deverá ser apresentado hoje à presidente Dilma, que retornará de uma viagem internacional. É ela quem decidirá o valor do corte do Orçamento. Pelos cálculos do economista Cristiano Souza, do Banco Santander, o arrocho deverá ficar em R$ 45 bilhões, número que ajudaria a acalmar os ânimos dos investidores.

    Em relação à disparada do dólar, Mantega disse que não há motivo para pânico. “Estamos em um período de volatilidade cambial causada por dois fenômenos. Um é o tapering, a redução dos estímulos do Fed à economia dos EUA. Como poderá anunciar um novo corte, isso causa instabilidade no mercado”, disse. “Em segundo lugar, há a China com sinais de acomodação no ritmo de crescimento. Isso afeta as moedas de países emergentes. Uns sofrem mais, outros, menos”, frisou.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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