Fed sinaliza aumento de juros

    Após reunião que cortou mais US$ 10 bi de apoio, presidente Janet Yellen diz que banco usará novos indicadores

    Marcelo Loureiro

    O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) rebaixou a importância da taxa de desemprego como termômetro para avaliar a força da economia do país, ao deixar claro que vai depender de uma série mais ampla de indicadores para decidir os próximos passos da política monetária, como o aumento dos juros. Esse será o passo seguinte ao desmonte (tapering) do programa de compra de ativos em curso, que ontem recebeu do Fed o terceiro corte de US$ 10 bilhões, reposicionando o montante em US$ 55 bilhões mensais. Foi o primeiro encontro presidido por Janet Yellen, que assumiu o banco central em 1º de fevereiro. 

    A taxa de desemprego era, junto com a inflação, uma das duas metas (forward guidances) destacadas pelo Fed na condução da política monetária norte-americana. Enquanto a primeira se mantivesse acima de 6,5% seria interpretada pelo banco central como indício de que a economia ainda precisa de incentivos. A dirigente minimizou a novidade ao informar que o abandono da promessa de manter os juros entre 0% e 0,25% até “bem depois” de a taxa de desemprego cair abaixo de 6,5% não indica qualquer mudança nas intenções do Fed. 

    O guidance para a inflação é de 2%, quase o dobro do índice atual. “Ocomitê atualmente espera que, mesmodepois de o emprego e a inflação estarem perto de níveis consistentes comomandato, as condições econômicas podem, por algum tempo, justificar a manutenção da taxa de juros abaixo dos níveis que o comitê vê como normais no longo prazo”, informou o Fed após reunião de dois dias. 

    O Fed também anunciou novo corte de US$ 10 bilhões no imenso programa de compra de títulos, afirmando que vai reduzir as aquisições mensais de títulos da dívida pública e ativos lastreados em hipotecas para US$ 55 bilhões. A decisão de continuar a reduzir o estímulo mantém o Fed no caminho da redução gradual apresentada pelo antecessor de Yellen, Ben Bernanke. O banco central repetiu que planeja continuar reduzindo as compras de ativos em”passos graduais” desde que as condições do mercado de trabalho continuem melhorando e a inflação mostre sinais de voltar para a meta de 2% do Fed. 

    Mantida essa mesma cadência, o programa de expansão para a liquidez será totalmente desconstruído até outubro desse ano. 

    Com o tapering caminhando em passos previsíveis, a grande dúvida do mercado se voltou para o aumento dos juros na economia norte-americana, o que só deve acontecer em 2015. 

    Em entrevista a jornalistas, ao ser questionada sobre quando a taxa de juros será elevada após o fim do programa de compra de títulos, Yellen respondeu: “A linguagem que utilizamos no comunicado é “horizonte relevante”. Esse é um termo difícil de definir, mas provavelmente significa algo em torno de seis meses, ou algo do tipo”. 

    A repercussão do pronunciamento no Brasil seguiu o mesmo caminho, sendo interpretado como um sinal de que o Fed pode elevar as taxas de juros um pouco antes do que era esperado, bem no início do próximo ano. O movimento poderia levar investidores estrangeiros a saírem do Brasil mais rapidamente, a fim de aproveitar os prêmios mais interessantes dos títulos da dívida norte-americana. Como são os ativos menos arriscados do mundo, esse movimento foi nomeado de “fly to quality”. 

    Após passar boa parte do dia de ontem em queda, o dólar fechou em alta ante o real. A moeda norte-americana avançou 0,3%, Newton Rosa Economista-chefe da SulAmérica Janet Yellen Presidente do Federal Reserve a R$ 2,349, após chegar a R$ 2,3258 na mínima da sessão, precedida de três recuos nos pregões anteriores. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de R$ 900 milhões. 

    “Há uma expectativa de que o juro possa subir antes do esperado, mas é uma possibilidade futura”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa. 

    Na reunião do Fed, uma voz dissonante foi a do presidente do escritório de Mineápolis do banco central, Narayana Kocherlakota. O dirigente afirmou que desistir da referência pode afetar a credibilidade do compromisso do Fed em retornar a inflação ao patamar de 2%. Desde sua implantação, os forward guidances haviam sido bastante comemorados pelo mercado, em ambos os lados do balcão. Tanto o Fed quanto os investidores aplaudiram o poder de comunicação das metas. Com objetivos claramente definidos, tiraram parte da volatilidade resultante da política monetária, ao diminuírem as expectativas dos agentes.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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