Fim do prazo para troca de partido deve levar à reforma ministerial

    Por Raymundo Costa | De Brasília

    O fim do prazo de filiação partidária dos candidatos às eleições de 2014 deve desencadear o processo da próxima reforma ministerial do governo Dilma. A presidente espera a definição do quadro eleitoral da sucessão para decidir quem fica ou quem sai do governo. Ao menos 12 ministros que devem concorrer a mandatos eletivos, nas próximas eleições, têm que deixar o cargo um ano antes da disputa. Dilma Rousseff pode acelerar e escalonar a reforma, prevista para dezembro ou janeiro, mas nem uma coisa nem outra estão decididas.

    A situação mais premente, entre os partidos que apoiam Dilma, é a do PSB, cujo presidente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é virtual candidato a presidente da República. PT, PMDB e outros aliados de Dilma pressionam pela demissão imediata dos ministros indicados pela sigla, especialmente de Fernando Bezerra (Integração Nacional), indicação pessoal de Campos. O PMDB cobiça voltar ao ministério, que já ocupou no governo Lula.

    Sem discutir especificamente a situação deste ou daquele ministro, o grupo que integra o núcleo da campanha da reeleição da presidente discutiu a situação do PSB na aliança, em reunião na sexta-feira, na Granja do Torto. Enquanto o PT exige uma definição logo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta conciliar as posições e dar mais tempo para Campos e seu partido. Mas na sexta-feira, um de seus integrantes crê ter notado uma mudança: Lula, que vinha jogando água fria na fervura, agora estaria jogando água morna. A preocupação de Lula é não “vitimizar” seu ex-ministro, amigo e governador de Pernambuco.

    O espólio do PSB no governo é considerável: além do Ministério da Integração Nacional e da Secretaria dos Portos, o partido também apresenta órgãos de grande repercussão regional e eleitoral como a Chesf, Departamento Nacional Contra as Secas (Dnocs), além da Sudene. Se o PSB não vai participar da coligação de Dilma na eleição, os demais parceiros da presidente na eleição reivindicam a redistribuição dos cargos entre os integrantes da nova aliança.

    O PT quer uma definição imediata de Campos, que diz que só pretende decidir sobre sua eventual candidatura no próximo ano. A rigor, Campos poderia esperar até junho para dizer se é candidato a presidente. O prazo de 5 de outubro nada significa para ele já que não está em seus planos deixar o PSB. Para Campos, o prazo que conta é 5 de abril de 2014, quando os candidatos com cargos no Executivo devem deixar seus postos.

    Ainda assim, pode sair do governo de Pernambuco e só em maio ou junho definir se será candidato a deputado, senador ou presidente da República. Esses são os prazos legais, mas nem no PSB se acredita que o governador deixe para 2014 uma decisão que o PT tem como praticamente certa: candidatar-se a presidente da República.

    O silêncio de Campos sobre declarações feitas por auxiliares, além de outras atribuídas a ele, têm causado irritação no PT e entre os estrategistas da campanha de Dilma. O governador, por exemplo, não desmentiu nem desautorizou auxiliares que fizeram declarações segundo as quais, na hipótese de ser candidato, a lógica o colocaria na oposição a Dilma. Na realidade, o governador apenas se limitou a reafirmar que só decidirá sua candidatura em 2014, depois que o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), disse, após um encontro reservado, que Eduardo Campos estava decidido a disputar.

    Lula, no entanto, acha importante manter Campos no campo governista, mesmo sendo ele candidato. Se a disputa contra dois candidatos de oposição (Marina Silva e Aécio Neves) será difícil, pior ainda contra três adversários. Na eventualidade de um segundo turno – o PT foi ao segundo turno em todas as eleições presidenciais que disputou, desde 1989 -, o apoio de Eduardo pode ser importante. Se por acaso o governador romper, o cuidado é para que não saia da aliança como “vítima”.

    Acelerar e escalonar a reforma é uma decisão que Dilma deve tomar diante do novo mapa eleitoral que se configurar depois de 5 de outubro. Campos, por exemplo, não vai deixar o PSB, partido que preside, mas seus aliados em outros partidos, além dos adversários internos, podem fazer movimentos reveladores.

    Os irmãos Gomes, por exemplo, devem abrir uma dissidência a Campos dentro do PSB, preservando seu espaço no governo federal, ou trocam de legenda. O Solidariedade ofereceu a sigla; o PSD, neste momento, está com Dilma

    Há mais de um desenho sobre a mesa da presidente. O do PT seria desencadeado de imediato: a presidente liberaria os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Fernando Pimentel (Indústria e Comércio), candidatos aos governos do Paraná e de Minas, respectivamente, e, de quebra, já aproveitaria para substituir Fernando Bezerra. Mas Gleisi, aparentemente, se prepara para sair apenas em janeiro.

    O PT não queria janeiro para evitar que a saída de uma dezena de ministros parecesse um banho de sangue. Já o ministro Alexandre Padilha (Saúde), virtual candidato do PT ao governo de São Paulo, quer sair só em abril para aproveitar ao máximo a exposição que teve com o programa Mais Médicos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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