A Índia defendeu na reunião do G-20 a criação de linhas de swap de moedas entre seus membros, para atenuar uma eventual restrição de liquidez no mercado cambial quando os Estados Unidos voltarem a subir os juros, no ano que vem.
Em apresentação no grupo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que um aumento da aversão global a riscos, associado com a normalização da política monetária nos EUA, pode levar a um “aperto significativo das condições financeiras globais, reversão nos fluxos de capital, pressões sobre a taxa de câmbio em mercados emergentes e efeitos negativos nos preços de ações””.
O Valor apurou que outros emergentes, como a Coreia do Sul, têm se manifestado no grupo das maiores economias do mundo pela garantia de swap. O Brasil não se manifestou, segundo fontes.
Em janeiro, o presidente do Banco CENTRAL da Índia, Raghuram Rajan, agitou a cena internacional ao reclamar que a cooperação global estava quebrada e atacou duramente os Estados Unidos e outras nações ricas por turbulências financeiras afetando os emergentes, no rastro da retirada dos colossais programas de liquidez.
Em Cairns, segundo uma fonte, a Índia quis assegurar que linhas de swap de moedas poderão estar disponíveis, como em 2008, para evitar o estigma de um país em dificuldade recorrer ao FMI e se submeter a suas condicionalidades.
Mas americanos e europeus sinalizaram, mais em debates informais, que não querem se substituir ao FMI e que a primeira linha de proteção deve vir dessa instituição. “Não há discussão ativa sobre isso [swaps], no momento””, disse uma autoridade monetária.
Benoit Coure, da direção executiva do Banco CENTRAL Europeu (BCE), ao ser indagado pelo Valor, disse que a discussão no G-20 foi sobre a rede de segurança em geral, e que isso significa FMI, “porque os bancos centrais [que fazem as linhas de swap] são independentes””. Ele acha, em todo caso, que dá para complementar esforços do FMI e das ações dos BCs.
Os países do G-20 disseram estar atentos à formação de riscos excessivos nos mercados financeiros, particularmente num ambiente de baixas taxas de juros e baixa volatilidade nos preços dos ativos.
Para o FMI, o foco da política macroeconômica nos emergentes deve continuar na formação de “colchões”” de proteção e tratar de vulnerabilidades, em preparação para “um ambiente caracterizado por maior taxa de juros e aperto nas condições financeiras externas””.
No seu comunicado final, os países do G-20 se comprometeram a levar em conta os impactos de normalizar suas políticas monetárias sobre a economia global. “Também garantimos a continuidade da eficácia de redes globais de segurança.”
Em 2008, no começo da crise global, o Brasil foi um dos países que obtiveram linha de swap de US$ 30 bilhões com o Federal Reserve (BancoCENTRAL dos Estados Unidos), que nunca foi acionada.
Uma rede global de swaps recíprocos de moeda foi montada, para prover adequada liquidez aos respectivos mercados. Atualmente, a China, com reservas internacionais próximas de US$ 4 trilhões, tem feito vários desses acordos com emergentes.
No G-20, segundo um participante, o Brasil não se manifestou sobre as redes de proteção para liquidez. Por outro lado, o pool de reservas dos Brics, de US$ 100 bilhões, justamente para ser usado em caso de crise, só poderá ser acionado depois de ratificação nacional, o que está longe de ocorrer.
Fonte: Valor Econômico