FMI pede ação contra risco de bolha imobiliária global

    Por Sergio Lamucci | De Washington

    A recuperação do mercado imobiliário em curso no mundo é uma boa notícia, mas é necessário que os países se previnam para evitar outro boom como o que contribuiu para a crise financeira global de 2008 e 2009, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI).

    “O setor imobiliário é essencial para a economia de qualquer país e tem implicações sistêmicas”, disse o vice-diretor-gerente do FMI, Min Zhu, em post no blog do Fundo. Nos últimos sete trimestres, os preços globais dos imóveis subiram, segundo o Fundo.

    No ano passado, houve alta dos preços em 33 de 52 países que fazem parte do índice global de preços de imóveis do Fundo. A relação das maiores altas é dominada por países emergentes. No Brasil, houve aumento de 7,4%, o sétimo maior avanço, atrás das Filipinas (10,6%), Hong Kong (10,3%), Nova Zelândia (9,1%), China (9,1%), Colômbia (8,1%) e Estônia (7,9%).

    O FMI lançou ontem o Global Housing Watch, página com indicadores sobre o setor imobiliário.

    As relações entre preços de imóveis, aluguéis e renda estão acima da média histórica para a maioria dos países ricos da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, diz o FMI.

    “Isso é verdade para Austrália, Bélgica, Canadá, Noruega e Suécia”, afirmou Zhu. No caso da Bélgica, a relação entre os preços e a renda estão quase 50% acima da média histórica, número que chega a 33% no Canadá e a quase 32% na Austrália. Em comparação com os alugueis, os preços de imóveis estão 87% acima da média histórica no Canadá, 60% na Bélgica e 54% na Austrália.

    Nos EUA, onde o preço dos imóveis bateu no pico em 2006 e depois caiu, no que se tornou um dos principais gatilhos da crise, as cotações de imóveis não parecem exageradas. A relação entre preços e alugueis está 2,6% acima da média histórica, ao passo que a comparação entre preços e a renda está 13% abaixo da média. Os preços parecem baixos no Japão, onde estão mais de 40% abaixo da média histórica em relação à renda e 37% em comparação com os alugueis.

    Esses números não estão disponíveis para o Brasil, que não faz parte da OCDE. Zhu observou que a avaliação sobre os preços de imóveis exige informações suplementares, além desses indicadores, como o crescimento do crédito, o endividamento das famílias, as características dos emprestadores e o método de financiamento.

    Em discurso na semana passada, Zhu afirmou que, em alguns casos, os preços estão se recuperando de uma queda expressiva durante a Grande Recessão. Em outros casos, eles continuaram a marcha para cima com apenas uma pequena moderação na crise.

    Segundo o vice-diretor-gerente do FMI, os instrumentos para conter booms imobiliários ainda estão sendo desenvolvidos. “A evidência sobre a sua eficácia está apenas começando a ser acumulada. A interação entre as várias ferramentas de políticas podem ser complexas. Mas isso não deve ser uma desculpa para a inação”, alertou Zhu, destacando que é preciso evitar a “negligência benigna”.

    A regulação do setor imobiliário, destacou Zhu, envolve o estabelecimento de um sistema complexo, que inclui a política microprudencial, a macroprudencial e a monetária. A primeira tem como objetivo garantir a resistência de cada uma das instituições financeiras, enquanto a segunda visa aumentar a força do sistema. Há discussões sobre qual deve ser o papel da política monetária em relação ao setor imobiliário, mas, para Zhu, está claro que ela terá de se preocupar mais do que antes com a estabilidade financeira e, desse modo, com o mercado de imóveis.

     

    Fonte: Valor

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