Da Redação
Relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado ontem apontou o Brasil como um dos mercados emergentes mais afetados pela atual fase de instabilidade financeira global, confirmando a tese apresentada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) na semana passada. O organismo acabou desmontando a análise otimista feita na terça-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que chamou de “um equívoco” as avaliações que apontam o país como um dos mais vulneráveis à crise externa.
Os alertas do FMI e do Fed levam em conta o insucesso do governo em controlar a inflação, o expressivo deficit em transações correntes, de US$ 81 bilhões no ano passado, e a crescente desconfiança de empresas com a política econômica. Segundo o Fundo, países com mais inflação e maiores deficits em conta-corrente foram os mais afetados, entre eles Brasil, Indonésia e Turquia. Para rebater as preocupações com o cenário internacional este ano, Mantega usou dados do FMI e ressaltou que foi o Fundo “quem pintou o mundo de azul” em 2014.
O FMI confirmou a perspectiva de fortalecimento da recuperação econômica global, mas ressaltou que isso dependerá de a atual oscilação dos mercados ter vida curta. No caso de países emergentes, contudo, aponta que o crescimento segue fraco, em razão de uma demanda doméstica modesta, “ainda que na maior parte dos casos ainda seja esperado crescimento neste ano e no próximo”.
No relatório preparado para o encontro do G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta, que começa hoje em Sydney, na Austrália, sublinhou que a atividade econômica brasileira perdeu fôlego no terceiro trimestre de 2013, com a queda no investimento e uma piora na confiança das empresas. Mantega observou na véspera, em sua apresentação de conjuntura para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que os dados dos últimos três meses do último ano ainda precisam ser avaliados, mas apostava na trajetória de retomada.
Transparência
O documento afirmou que, na área fiscal, os países em desenvolvimento precisam garantir a credibilidade de sua política, além de garantir recursos para eventuais estímulos à atividade econômica. O Fundo foi também incisivo no que se refere à pouca transparência das operações chamadas de para-fiscais da China e do Brasil, como os repasses de recursos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pois eles aumentam os riscos para as finanças públicas.
Em suas recomendações, o Fundo lembrou que o Brasil deveria estar empenhado em um processo de consolidação fiscal, de modo a buscar uma redução de sua dívida bruta. Em seu discurso de terça-feira, Mantega garantiu “solidez fiscal” e baixa no endividamento de curto prazo.
Outro aspecto abordado pelo FMI para a crise atual está na perda de produtividade e nos investimentos de longo prazo nos países emergentes.Essas economias estão, segundo o organismo, vivendo um período de menor potencial de expansão. Em relação ao Brasil, a desaceleração também reflete gargalos de infraestrutura e regulatórios.
Fonte: Correio Braziliense