Fuga da poupança

    Escalada dos juros faz saldo da caderneta de abril ficar negativo pela primeira vez desde fevereiro de 2012, no pior resultado mensal em três anos

    Historicamente mais popular aplicação financeira do país, a poupança já não mais empolga o brasileiro. Diante da escalada da inflação e dos juros básicos, outras modalidades de investimento que oferecem rentabilidade maior que a da caderneta, como fundos de renda fixa e ações, passaram a animar mais. Não por acaso, os resgates superaram os depósitos em abril, o que não ocorria desde fevereiro de 2012. O saldo entre saídas e entradas ficou negativo em R$ 1,27 bilhão. Trata-se da maior perda para o mês em três anos, segundo números divulgados ontem pelo Banco CENTRAL (BC).

    Para analistas, a menor atratividade da poupança reflete a piora gradual da economia e, em especial, a elevação dos juros básicos (Selic), que iniciou sua trajetória há um ano. A taxa saiu da mínima histórica, de 7,25% ao ano, para os atuais 11%. Com isso, melhorou também a rentabilidade de fundos de investimentos, que apresenta mais chances de ganhos toda vez que a Selic sobe.

    “Até o ano passado, havia muitos poupadores resgatando cotas nos fundos de investimento para aplicar na poupança, que, além de ser isenta de Imposto de Renda, não paga taxa de administração”, recordou o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira. “Mas, à medida que o BC passou a subir juros, mais gente migrou da poupança para esses fundos, com rentabilidade maior”, explicou.

    Há um ano, os depósitos na caderneta cresciam a taxas mensais superiores a 10%. Em dezembro, quando há mais dinheiro circulando na economia em função do pagamento do 13º salário, a expansão foi de 23%. O quadro mudou à medida que as contas de início de ano apareceram, e engoliram o dinheiro a mais de dezembro. Em 2014, até abril, os depósitos avançaram 12,6%. Em igual período no ano passado, essa expansão foi de 14,3%.

    Custo de vida

    Outro fator que levou a um menor crescimento dos depósitos foi a alta do custo de vida. Com a corrosão do poder de compra pela inflação, sobrou menos dinheiro no bolso para poupar. “Antes, o salário do trabalhador dava para comprar tudo, e ainda sobrava alguma economia”, refletiu Oliveira.

    A correção da poupança é pré-fixada em 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR). Assim, como a expectativa do mercado é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ultrapasse o teto da meta oficial, de 6,5% ao ano, é bem provável que a poupança fique no vermelho em 2014. “O investidor está atento a isso e procura aplicações mais rentáveis”, lembrou o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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