Golpes afetam aposentados

    VM e DB

    Instituições que deveriam zelar pela aposentadoria de milhões de trabalhadores se revelam as principais vítimas de bancos falidos. Com uma carteira de aproximadamente R$ 650 bilhões para investir, mas sem contar com gestão profissional durante muitos anos, elas atraem toda sorte de golpes e fraudes. Em muitos casos, como mostrou operação recente da Polícia Federal, foi com a anuência dos próprios gestores desses fundos que executivos aplicaram o patrimônio de milhões de idosos em produtos financeiros podres. Em troca, receberam suborno e regalias.

    O órgão que controla e supervisiona essas entidades, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), disse não conseguir dimensionar o tamanho das perdas dessas instituições ao longo dos anos com bancos quebrados e investimentos que se mostraram parte de esquemas criminosos, mas afirma que os problemas são pontuais e não sistêmicos. A julgar pelos casos conhecidos, o buraco é enorme. Apenas o Real Grandeza, fundo de previdência de 12 mil trabalhadores das Centrais Elétricas de Furnas e Eletrobrás Termonuclear, estima ter perdido R$ 150 milhões com operações feitas com o falido banco Santos, que sofreu intervenção do Banco Central em 2004.

    Após anos de batalhas judiciais, o fundo disse ter conseguido recuperar aproximadamente um terço desse valor, R$ 50 milhões. “O Banco Santos foi uma escola de vida para o Real Grandeza porque nos mostrou tudo aquilo o que não queremos ser (em termos de gestão). Hoje, mesmo que quiséssemos buscar rentabilidade maior em instituições como o banco Santos, nosso modelo de risco não permitiria”, diz o diretor de investimentos da instituição, Eduardo Garcia.

    Estranhamento
    A Previc diz que os valores perdidos pelas demais entidades nas operações com instituições financeiras falidas representam parte insignificante do patrimônio dos fundos de pensão. Uma fonte do governo, no entanto, diz que causa estranhamento o fato de os gestores desses fundos de previdência estarem recorrentemente envolvidos em fraudes.

    Um policial federal que participou da operação Miqueias lembra que, no caso, prefeitos e administradores de alguns desses fundos recebiam propina para aplicar em produtos bancários escolhidos por corretoras envolvidas em crime de lavagem de dinheiro. Em troca, ficavam com 10% a 20% dos recursos usados. Agentes do mercado financeiro explicam que o esquema era o mesmo em parte dos bancos que levaram o dinheiro de milhares de pensionistas e trabalhadores.

    Apenas o Santos, em sete processos listados no site da Previc, deixou prejuízo de R$ 100 milhões. Esse valor, porém, é só a ponta de um rastro de prejuízos que pode superar alguns bilhões quando somados a perdas com outras instituições que sofreram intervenções nos últimos 30 anos pelo BC. José Roberto Ferreira Savoia, ex-secretário adjunto de Previdência Complementar e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), pondera que o regime de previdência complementar tem funcionamento adequado, mas lembra que para evitar problemas existem regras rígidas que devem ser seguidas. “Esse regime é bom, mas precisa de evolução e aprimoramento”, avalia. (VM e DB)

    Prevenção
    A Previc diz atuar de maneira preventiva, o que não significa “garantia absoluta de que situações que fujam à normalidade jamais ocorram,” afirma. De acordo com a entidade, fraudes constituem exceção e são tratadas de forma corretiva. A Previc não quis comentar os casos envolvendo a EBX, do Empresário Eike Batista. Apenas o Postalis, fundo de pensão dos servidores dos Correios e Telégrafos, detinha R$ 127 milhões em ações do grupo.

     

     

    Fonte: Correio Braziliense

    Matéria anteriorSem controle, horas extras batem recorde
    Matéria seguinteTodos querem um pedaço do BC