Greve cresce e atormenta

    VERA BATISTA

    Depois de um dia inteiro de negociações entre a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) e o comando nacional de greve dos bancários, os impasses continuam. A Fenaban propõe que os grevistas compensem os dias parados em seis meses. As lideranças sindicais não aceitam e argumentam que a responsabilidade pela paralisação é das instituições financeiras. Também não houve conciliação quanto ao salário. Os sindicalistas brigam por 11,93% frente à proposta de 8% apresentada pelo patronato para todas as verbas de natureza salarial e 8,5% para os pisos

    Na quarta-feira, balanço divulgado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiros (Contraf-CUT), anunciou que 56,4% das agências do país estão fechadas. Ontem, em algumas agências de Brasília, representantes do Sindicato do Distrito Federal auxiliavam os clientes com dificuldades de usar os caixas eletrônicos e vigiavam para que a paralisação, que dura 22 dias — uma das maiores da história da categoria—, fosse respeitada. Naquelas onde não havia piquete, as portas foram abertas ao público. “Apesar de as máquinas estarem operando bem, às vezes ficam lentas. As filas estão grandes, maiores que o normal. A gente perde muito tempo. Quase fiquei sem almoçar”, destacou Fernando Ari Conceição, 32 anos, professor.

    A servidora distrital Maria An-tônia Assú, 41, contou que esperou quase uma hora por atendimento. “Fiz tudo, finalmente.

    Mas minha mãe, pensionista do Banco do Brasil, não conseguiu receber. Já liguei para lá e não recebi resposta”, criticou. A comerciante Priscila Edna Valentin-ni, 26, não consegue sacar dinheiro há um mês. Primeiro, o cartão não lhe foi entregue por causa da greve dos Correios. Em seguida, a greve dos bancários, segundo Priscila, piorou a situação. “Estou dependendo do meu marido, apesar de ter dinheiro na conta-cor-rente. É um absurdo. Estão tirando o nosso direito de comprar e de pagar as dívidas”, lamentou.

    Retorno lento

    Os problemas com a entrega de cartões de débito começam a ser resolvidos aos poucos. O ajudante de pedreiro Edmar Ramos de Oliveira, 30, estava com o cartão vencido e não conseguia receber o salário, em tomo de R$ 1 mil.

    “Pedi um novo há dois meses. Mas demorou a chegar. Vim aqui (na agência do BRB do Setor Comercial Sul) na quarta-feira passada e me mandaram voltar hoje”, contou Edmar. Em cerca de 30 minutos, o plantonista, apesar do movimento intenso de correntistas, entregou o documento.

    Para amenizar os prejuízos dos clientes, o BRB elevou de R$ 3 mil para R$ 5 mil o limite das transferências. A medida facilitou a vida do casal Mariana, 48, e Lucas Jordão, 51. Eles conseguiram pagar o Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) dentro do prazo. No Santander, o comerciário João de Deus, 56, também fez depósito sem contratempo. Da mesma forma que Maurício Telhado, 49, dono de uma corretora de seguros.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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