Idec questiona cálculo do BC

    Instituto diz que bancos terão que pagar menos de R$ 9 bilhões, e não os R$ 149 bilhões previstos pelo governo

     

    Seria de R$ 8,465 bilhões o montante a ser pago pelos bancos aos poupadores caso o Supremo Tribunal Federal (STF) decida que cabe ao sistema bancário arcar com as perdas de rendimento sofridas pelos aplicadores na caderneta de poupança durante os planos econômicos Bresser (1998), Verão (1989) e Collor 2 (1991). O cálculo foi feito pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o valor é muito menor do que o apresentado pelo procurador do Banco Central, Isaac Sidney Menezes Ferreira, na semana passada durante visita ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ferreira estimara o valor em aproximadamente R$ 149 bilhões.

    De acordo com o Idec, o cálculo do governo está superestimado porque não levou em consideração vários fatores. O primeiro foi incluir na conta o Plano Collor 1, que corresponde a 54% do valor apresentado pela autoridade monetária. O plano, no entanto, não poderia ser levado em conta, segundo o Instituto, pois há jurisprudência do próprio Supremo desfavorável aos poupadores. Com isso, a conta seria reduzida em quase R$ 68 bilhões, informa Flávio Siqueira Júnior, advogado do Idec.

    Outro fator que não foi levado em conta pelo BC, ao apresentar o cálculo, diz respeito aos poupadores que já tiveram demanda na Justiça e obtiveram ganho de causa. Esse valor, no caso, reduz em mais R$ 5 bilhões a conta do governo. O governo, no entanto, argumenta o Idec, acrescentou na conta a poupança com valores baixos. Só que esses valores desestimularam as ações na Justiça. “Entrar com a ação ficaria mais caro do que o valor na conta poupança. Esse valor corresponde a R$ 39 bilhões do número que a gente está trazendo. Agora, faça as contas, já são R$ 23,9 bilhões “, disse Issac Sidney.

    O cálculo do governo desconsidera, ainda, a própria mortalidade dos interessados, idosos na época. “Faz 25 anos: a expectativa de mortalidade do IBGE não foi excluída da conta”, ponderou.

    Flávio lembra ainda que a ação é limitada ao Estado de São Paulo, embora o Idec tenha entrado na Justiça em nome de todos os poupadores do Brasil. Segundo ele, os efeitos, de acordo com definição da Judiciário, são limitados ao Estado, o que retira do valor mais R$ 11,8 bilhões. “É como se todos os bancos fossem devolver de forma espontânea, todos os planos econômicos. Como se todos os poupadores entrassem na Justiça e ganhassem todas as ações. Então, esse valor é muito irreal”.

    O advogado do Idec também critica a possibilidade de o STF deixar para julgar a ação no ano que vem, como indicou hoje o ministro Marco Aurélio. “A gente vê isso com extrema gravidade. Os poupadores sofreram suas perdas há mais de 25 anos. Muitos deles são idosos. À medida que o STF visa a carregar julgamento mais à frente isso pode ser um pro -blemapara a expectativa que as pessoas têm do Judiciário”, destaca.

    De acordo com o Idec, só no primeiro semestre de 2013, o saldo com provisões cíveis dos principais bancos Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, HSBC, Itaúe Santander totalizou R$ 18,2 bilhões, segundo estudo elaborado pelo instituto, atualizado de 2009.

    O Idec lembra também que a composição da provisão cível “inclui não somente saldos como ações judiciais para reivindicação dos juros expurgados da poupança durante os planos econômicos, mas traz também qualquer ação cível movida contra bancos”. ABr

     

    Fonte: Brasil Econômico

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