Cientistas políticos dizem que oposição deve ter cautela ao explorar o caso
Mateus Campos
Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, o impacto do julgamento do mensalão nas eleições de 2014 e na candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff, temido por setores do PT, dependerá da situação econômica do país no próximo ano:
— Quando há um cenário de crise econômica, denúncias de corrupção são devatadoras, demolidoras. Quando há prosperidade ou estabilidade, a população tende a relevar esse tipo de acusação — explica Cesar Romero Jacob, da PUC-Rio, autor do livro “A geografia do voto nas eleições presidenciais no Brasil: 1989-2006”.
Além disso, a avaliação é que a campanha de Dilma à reeleição conta com dois bons trunfos. Para Jacob, a oposição deverá ter cuidado na hora de explorar o caso. Afinal, a ex-senadora Marina Silva, que tenta criar seu partido (Rede) a tempo de disputar as eleições, era ministra quando o escândalo estourou, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), recentemente defendeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das acusações de envolvimento no esquema de corrupção.
O senador Aécio Neves (PSDB), por sua vez, teria contra seu partido o chamado mensalão tucano, em que o ex-governador mineiro e atual deputado federal Eduardo Azeredo é acusado de chefiar um esquema semelhante ao montado pelos petistas, em 1998. Professora do Cpdoc, Marly Silva da Motta vê na postura cie Dilma uma outra vantagem:
— Ela, ao contrário do PT e do próprio Lula, teve atuação inteligente: procurou, ao máximo, se distanciar dos políticos acusados. Além disso, não pode ser acusada de estar diretamente envolvida com nada do que houve em 2005 — avalia.
Os especialistas também lembram dos precedentes das eleições de 2006, quando Lula conseguiu ser reeleito para a Presidência no ano seguinte ao escândalo. E citam 2012: enquanto acontecia o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), o PT conseguiu eleger um número recorde de prefeitos. Para eles, o debate sobre os recursos fica restrito a uma parcela muito pequena do eleitorado.
— Para o grosso do eleitorado, isso é irrelevante. Os eleitores se preocupam com a política social, a economia e as condições de vida. Esses fatores são muito mais decisivos — diz Fábio Wanderley Reis, da UFMG.
A imagem do Supremo, no entanto, pode sair arranhada. Para Marly, a opinião pública entenderá a análise dos embargos in- fringentes (caso sua admissibilidade seja aprovada pelo STF) como um aval à impunidade.
— A leitura que será feita é que, mais uma vez, os poderosos conseguirão se livrar. Certamente, o Supremo sairá desgastado. De qualquer forma, o ministro Joaquim Barbosa, que votou contra, sairá fortalecido como uma liderança dissidente — afirma Marly.
STF PODE SE DESGASTAR
Por isso, a insatisfação vista nas ruas durante junho e julho, e mais uma vez nas comemorações do Sete de Setembro, poderia se voltar também para os ministros do Supremo, que, até agora, não estão na mira dos protestos. Secretário-geral da ONG Contas Abertas, Francisco Gil Neto diz que haverá descontentamento por parte de setores da sociedade civil, caso o julgamento se prolongue indefinidamente.
— Em 2012, quando o julgamento chegou ao fim, esperava-se que seria inaugurada uma fase de punições. Se ficar decidido que os embargos infringentes serão analisados no ano que vem, acho que o Supremo, que estava imune até hoje, pode entrar no foco das futuras manifestações populares.
Fonte: O Globo