Incertezas quanto a 2015 derrubam confiança e PIB

    Uma das características mais relevantes do ambiente econômico brasileiro neste momento são as incertezas em relação ao futuro da política econômica. As dúvidas ajudam a explicar o baixo apetite das empresas, principalmente do setor industrial, para investir, um problema que vem marcando o desempenho do país há quase quatro anos.

    A variação real da Formação Bruta de Capital Fixo, indicador que mostra os investimentos das companhias em bens de capital (máquinas e equipamentos) e os gastos com construção civil vêm caindo desde o último trimestre de 2010. No ano passado, depois de uma pequena recuperação, voltou a recuar e, no primeiro trimestre de 2014 (último dado disponível), entrou em território negativo.

    O estoque de investimento está abaixo de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), um dos níveis mais baixos dos últimos 20 anos. Um dos principais motivadores do investimento privado é a confiança do empresário na capacidade de o país crescer de forma sustentável, sem gerar desequilíbrios.

    Confiança é hoje uma mercadoria escassa no Brasil. Os indicadores apurados por várias instituições mostram que não apenas os empresários, mas também os consumidores, andam receosos. Há dúvidas sobre o comportamento da inflação, a manutenção do mercado de trabalho aquecido, o desempenho das contas externas, o cumprimento pelo setor público das metas fiscais, entre outros temas.

    O Indicador de Confiança da Indústria, apurado pela Fundação Getulio Vargas, está no patamar mais baixo desde o início do governo Dilma. Mesmo indicadores dos setores que mais se beneficiaram dos constantes estímulos oficiais ao consumo, como o de serviços, experimentam agora curva descendente.

    O Índice Nacional de Expectativa do Consumidor, apurado pela Confederação Nacional da Indústria, está no menor patamar desde a crise de 2009. Quando se observa, dentro desse indicador, o quesito “inflação”, o gráfico mostra o pior momento em mais de dez anos. No item “desemprego”, o sentimento só é pior que o capturado em 2009.

    É curioso que, cinco anos depois e sem a influência de um evento externo da gravidade do vivido pelo mundo em setembro de 2008, quando o Banco Lehman Brothers quebrou e arrastou as economias do planeta para uma crise sem precedentes, o Brasil comece a exibir indicadores de confiança parecidos com os daquele ano, quando o PIB entrou em recessão.

    O governo da presidente Dilma Rousseff decidiu mudar a essência da política econômica herdada de gestões anteriores. A partir de meados de 2012, reduziu dramaticamente o esforço fiscal, forçou uma redução na taxa básica de juros (Selic) e fez um movimento para desvalorizar a taxa de câmbio. Apesar de bem-intencionadas, as medidas não surtiram o efeito esperado e o que se viu, desde então, foi o aumento da inflação, a contração do investimento e a queda do PIB, além da deterioração contínua da situação fiscal.

    No ano passado, o governo reconheceu tacitamente os erros cometidos ao mudar o rumo de algumas políticas. O Banco CENTRAL foi obrigado a elevar a taxa Selic a um nível mais alto que o encontrado pela atual gestão e o câmbio voltou a flutuar (ainda que sob um programa que impede sobressaltos nas cotações). Na área fiscal, o governo mudou o discurso, mas não a prática – está longe de cumprir a meta de superávit primário, de 1,9% do PIB, prometida para este ano.

    A presidente Dilma acredita que as expectativas em relação à economia só vão melhorar em novembro, após a eleição. Confiante na vitória, ela acha que terá, depois do pleito, oportunidade para dialogar em condições mais favoráveis com o setor empresarial. Na prática, o governo se recusa a dizer, agora, o que pretende fazer na economia num possível segundo mandato.

    Mudanças na gestão macroeconômica e na equipe são admitidas em Brasília, mas nada será antecipado durante o período eleitoral. Não se está exigindo da candidata que lidera as pesquisas uma nova “Carta aos Brasileiros”, mas a emissão de alguns sinais que ajudem a tranquilizar o setor produtivo. A estratégia de não fazer nada agora apenas contribui para aumentar as incertezas, o que por sua vez deprime ainda mais o humor dos empresários, mantendo a economia em marcha lenta.

    Semanalmente, o BC tem colhido, via Boletim Focus, projeções cada vez piores para o desempenho do PIB neste ano. Nos dados divulgados ontem, a mediana das opiniões projeta crescimento de apenas 1,07% em 2014.

     

    Fonte: Valor Econômico

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