Índia vai deixar o Brasil para trás

    A presidente Dilma Rousseff não para de colecionar dados negativos na sua gestão, principalmente, na área econômica. Deficits históricos na balança comercial e nas contas públicas coroaram o último ano do primeiro mandato da petista, que, agora, no início de próximo quadriênio de governo, será lembrada não somente por colocar o país em uma recessão profunda como também por deixar a nação perder posições no ranking das maiores potências do planeta. Neste ano, a Índia deve ultrapassar o Brasil e terá o sétimo maior Produto Interno Bruto (PIB) do planeta, conforme dados da Austin Rating. 

    “O fraco crescimento da economia brasileira e a forte desvalorização do real terão impacto no resultado do PIB deste ano. O país perderá posições se continuar com desempenho pífio na economia”, destaca o economista-chefe da Austin, Alex Agostini. No início de 2014, o especialista havia previsto que isso aconteceria somente em 2018. Boa parte desse resultado também se deve à baixa taxa de investimento. “Falta confiança no governo e no controle das contas públicas. Sem isso, não há investimento e, por consequência, o país não cresce”, explica.

    Agostini não é tão pessimista como a maioria dos analistas e até mesmo o governo, que já admite que o PIB pode ter recuado em 2014. Ele considera um crescimento pequeno em 2014 e uma queda de apenas 0,4% no PIB neste ano, que é a mediana das estimativas do mercado compiladas pelo boletim semanal Focus, do Banco CENTRAL. Há previsões de retração de até 1% do PIB em 2015. Com isso, a tendência é que o país perca mais posições ainda. “Se a situação econômica piorar, com racionamento de água e energia, é possível que o Brasil também seja ultrapassado pelo Canadá”, destaca Agostini, que nem está levando em consideração o impacto do escândalo de corrupção na Petrobras. 

    A consultoria britânica Capital Economics, por exemplo, estima que essa crise na estatal poderá roubar mais de 0,5% do PIB brasileiro neste ano. Na avaliação do especialista da Austin, a Índia tem a possibilidade, que antes era do Brasil, de chegar a ser a quinta maior potência do planeta, ultrapassando a França. A opinião é compartilhada pela economista Monica Baumgarten de Bolle, diretora da consultoria Galanto/MBB, em Washington. 

    Na avaliação dela, a Índia começou a fazer reformas na área econômica e tem uma abertura comercial que o governo brasileiro não permite. “Ao contrário do Brasil, o país asiático atravessa um processo de mudanças que estão surtindo efeitos positivos na economia. Há uma expectativa de que o país cresça mais do que a China nos próximos anos”, pontua Monica. “Há vários países crescendo bem mais do que o Brasil. Eu não duvidaria se ele deixasse de figurar entre as 10 maiores potências do planeta”, completa. 

    Segundo Monica, parte da vantagem indiana se deve ao maior grau de abertura comercial. “A Índia é muito mais aberta do que o Brasil. Basta medir o fluxo comercial em relação ao PIB”, explica ela, lembrando que, em 2013, esse índice na Índia era de 55% e no Brasil, de 35%. “Houve uma mudança considerável nos últimos anos. Na década de 1990, o percentual era próximo de 20% nos dois países. Em 20 anos, a Índia mais do que dobrou o grau de abertura e o Brasil não fez o mesmo”, compara.

     

    Agenda atrasada

    “A economia brasileira só conseguirá avançar se o governo resolver abrir o comércio e buscar acordos com parceiros estratégicos”, avalia a economista da Galanto. Para ela, se o país continuar preso ao Mercosul, não será possível avançar. “É lamentável que o Brasil fique com essa agenda tão atrasada na aérea comercial, principalmente, com os EUA. Está na hora de o país acordar porque a única agenda comum entre democratas e republicanos é o comércio “, alerta. 

    Além do PIB, o câmbio também tem contribuído para o desempenho ruim do Brasil. Em suas contas, Agostini considera que o real teve desvalorização de 21% no primeiro bimestre deste ano com relação à média de 2014, com o dólar chegando a R$ 2,85 até o último dia 20. Enquanto isso, a moeda indiana, a rúpia, ficou praticamente estável, com uma variação de apenas 2% na mesma base de comparação.

    Com isso, medido em dólares, o PIB brasileiro, de 2014 para 2015 deve encolher de US$ 2,172 trilhões para US$ 1,884 trilhão. Já o da Índia saltará de US$ 2,113 trilhões para US$ 2,336 trilhões. O Brasil só não está pior que a Rússia, que, em função da crise com a Ucrânia e das sanções ocidentais, deve registrar contração de 3% em 2015 e cair da 10ª posição para a 16ª , pelas contas da Austin.

    “A desvalorização do rublo já supera os 60% neste início de ano em relação ao mesmo período do ano passado”, informa Agostini. “Excluindo os EUA, a China e a Índia, todas as economias deverão encolher em 2015.”

     

    Ladeira abaixo

    O mau desempenho da economia brasileira e o real mais desvalorizado devem levar o país a perder para a Índia, neste ano, a posição de sétima economia

     

    Como ficou em 2014

     

    Ranking      PIB    Variação do PIB    Taxa de investimento

         (US$ trilhões)    (Em %)     (Em % do PIB)

     1 Estados Unidos    17,459    2,4    19,8

     2 China     10,463    7,4    47,7

     3 Japão     4,576    0,1    22,2

     4 Alemanha     3,749    1,5    17,7

     5 França     2,846    0,4    22,1

     6 Reino Unido     2,783    2,6    15,0

     7 Brasil     2,172    0,2    17,4

     8 Rússia     2,113    5,8    32,2

     9 Itália     2,082    -0,4    32,2

    10 Índia     1,887    0,6    7,4

     

    Como será em 2015

     

    Ranking     PIB    Variação do PIB    Taxa de investimento

        (US$ trilhões)    (Em %)    (Em % do PIB)

     1 Estados Unidos    18,374    3,6    20,5

     2 China    11,253    6,8    47,4

     3 Japão    4,212    0,6    22,0

     4 Alemanha    3,290    1,2    17,8

     5 Reino Unido    2,721    2,7    15,5

     6 França    2,473    0,9    21,8

     7 Índia    2,336    6,3    32,6

     8 Brasil    1,884    -0,4    17,5

     9 Canadá    1,637    2,3    24,0

    10 Itália    1,408    0,4    17,6

     

    Fonte: Austin Rating, com base em dados do Boletim Focus, do Banco CENTRAL, e do Fundo Monetário Internacional (FMI) – quadro atualizado em 20/02/2015

     

    Errata

    Em entrevista publicada ontem na página 10 do Correio, Felipe Salto foi identificado erroneamente como economista da Tendências Consultoria, empresa da qual se desligou. Atualmente, ele é professor da FGV e assessor do senador José Serra (PSDB-SP).

     

    Fonte: Correio Braziliense

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