Índice fica bem abaixo do previsto no ano anterior

    Autor: Sergio Lamucci

    O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro, de 0,44%, ficou acima do 0,31% esperado pela média dos analistas ouvidos pelo Valor Data, mas o resultado do acumulado em 2017 mostrou uma inflação bastante baixa para padrões brasileiros. O índice fechou o ano em 2,95%, muito menor que o consenso de 4,87% projetado pelos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) no fim de 2016.

    deflação de alimentos explica uma boa parte dessa história, mas a trajetória benigna da inflação de 2017 não se limitou a esse fator. O comportamento dos serviços e os núcleos (as medidas que buscam reduzir ou eliminar a influência dos itens mais voláteis) mostra que as boas notícias foram além das notícias favoráveis no grupo de alimentação e bebidas.

    A grande ociosidade existente na economia e o desemprego elevado, depois de quase três anos de recessão, contribuíram para a desaceleração dos índices. Além disso, o BC conseguiu reancorar as expectativas inflacionárias, que haviam saído do controle depois de o IPCA rodar por vários anos bem acima da meta de 4,5%. A autoridade monetária demorou para começar a cortar os Juros com mais força, mas depois promoveu uma queda mais expressiva da Selic, levando a taxa para os atuais 7% ao ano. No fim de 2016, o mercado apostava que os Juros terminariam 2017 em 10,25%.

    A contribuição dos preços de alimentos, de todo modo, foi muito importante para a queda da inflação. Nos 12 meses até agosto de 2016, o grupo alimentação no domicílio acumulava alta de 16,8%. Ele passou então a perder fôlego, fechando 2016 com aumento de 9,4%; em 2017, houve deflação de 4,85%.

    O índice de difusão, que mostra o percentual de itens em alta no mês, subiu de 46,4% em novembro para 56,8% em dezembro, de acordo com números da MCM Consultores Associados. Ainda assim, ficou abaixo dos 59,8% registrados no mesmo mês do ano anterior dos 62,2% da média histórica, indicando pressões inflacionárias menos disseminadas.

    Os preços de serviços avançaram de 0,12% em novembro para 0,59% em dezembro. No acumulado em 12 meses, porém, houve queda de 4,58% para 4,52%, um percentual bem inferior aos 6,47% de 2016, aponta a MCM. A inflação subjacente de serviços, que exclui os grupos de turismo, serviços domésticos, cursos e comunicação, teve alta ainda mais fraca em 2017, de 3,69%, um pouco acima do 3,63% acumulados nos 12 meses até novembro, mas bem inferior aos 6,27% do ano anterior. Essa medida recebe muita atenção dos analistas por concentrar os itens mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária.

    O comportamento dos núcleos em 2017 também foi favorável, apesar da aceleração no mês passado. Em dezembro, a média de três das medidas mais usadas ficou em 0,41%, mais alto que o 0,2% de novembro, segundo a MCM. Em 12 meses, houve avanço de 3,54% para 3,6%, ainda assim quase 1 ponto percentual menor que a meta de 4,5%. Em 2016, a média dos núcleos subiu 6,67%.

    Há quem avalie que o IPCA de 2,95% indica que o BC poderia ter reduzido mais os Juros, ou pelo menos cortado a Selic mais rápido. O baixo IPCA de 2017, no entanto, deixará uma herança favorável para 2018. Como a inércia no Brasil é elevada, a inflação modesta do ano passado deixará uma herança menor para este ano. A probabilidade de um IPCA abaixo de 4,5% em 2018 é grande, abrindo espaço para os Juroscontinuarem em níveis baixos. A expectativa dominante é de mais um corte da Selic neste ano, de 7% para 6,5%.

    Fonte: Valor Econômico

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