Inflação e desemprego são armas do 2º turno

    Por Tainara Machado e Arícia Martins | De São Paulo

    A inflação, que deve ultrapassar o teto da meta e superar 6,6% nos 12 meses acumulados em setembro, deve ser o tema central das críticas do candidato da oposição, Aécio Neves (PSDB), à condução da política econômica pela presidente Dilma Rousseff (PT). A candidata à reeleição deve explorar a manutenção da taxa de desemprego nos menores patamares recentes, seu principal trunfo eleitoral, além de comparar os indicadores sociais e econômicos da administração petista com os do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), segundo economistas ouvidos pelo Valor.

     

    Para a maioria, porém, é pouco provável que o debate seja mais propositivo e discuta medidas que serão adotadas nos próximos anos para retomar o crescimento no país. Também não é esperado que Dilma antecipe o anúncio de sua equipe econômica em um eventual segundo mandato, apesar de a presidente já ter sinalizado que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não ficará à frente da pasta.

     

    Com Dilma e Aécio no segundo turno, a economia pode ganhar mais relevância, na avaliação de Antônio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “No primeiro turno, houve certa pobreza em relação ao debate econômico, que parecia mais guiado pelo marketing. Agora, com a polarização entre duas plataformas razoavelmente conhecidas, os dois candidatos devem explorar suas diferenças.”

     

    Entre os temas que devem ganhar destaque, diz, estão questões mais “palatáveis” ao eleitor, como inflação e privatizações. Em sua avaliação, é possível que Dilma acene ao setor privado, enquanto Aécio pode tentar enfatizar a prioridade para a justiça social, na tentativa mútua de conquistar votos do oponente.

     

    Se ocorrer, o “aceno” só deve vir depois do segundo turno, diz Tony Volpon, diretor-executivo na Nomura Securities. “Acho difícil vermos aproximação de Dilma com o mercado financeiro. Possivelmente vão correr atrás do prejuízo apenas após uma eventual reeleição”, disse Volpon.

     

    A comunicação de Dilma com empresários já foi alvo de críticas, mas o mal-estar aumentou depois que a propaganda do PT mostrou banqueiros reunidos em uma sala enquanto a comida sumia da mesa de uma família para criticar a proposta de independência do Banco CENTRAL, feita por Marina Silva (PSB). Volpon também não acredita em nomeação da equipe econômica antes de confirmada uma eventual vitória de Dilma.

     

    Sem a expectativa de um embate concreto e detalhado entre diferentes programas de governo, José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, acredita que Aécio vai voltar a criticar a qualidade da política econômica de Dilma, com críticas à inflação mais alta nos últimos quatro anos e às denúncias de corrupção na Petrobras. Já a campanha do PT deve questionar a política social do PSDB, enfatizando a manutenção do emprego no período de crise, com críticas as privatizações feitas durante o governo FHC.

     

    “Esses quatro pontos devem continuar centrais, ninguém vai querer discutir a fundo as decisões de política econômica”, afirma Gonçalves. “A tradição de não tratar de alguns assuntos durante a campanha deve continuar.”

     

    Para Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, não haverá espaço para um debate econômico sério no segundo turno. “O PT deve tender para a mesma estratégia de jogar baixo para prejudicar o oponente, por isso não vemos espaço para uma discussão econômica mais séria”.

     

    A situação fiscal poderia ser um tema interessante para Aécio, mas há dúvidas se ele será realmente abordado, já que é uma questão sem muito apelo entre o grande eleitorado., diz.

     

    O nível do debate tem sido muito ruim, segundo Márcio Garcia, professor da PUC-Rio, e não deve mudar no segundo turno, diz o professor, para quem nenhum dos dois candidatos deve expor o que realmente pensa. “Todo mundo tenta ganhar um pouco do eleitorado do outro, sem colocar em risco seu próprio eleitor”. A política fiscal, questão mais sensível em sua avaliação, deve ficar em segundo plano porque exige medidas difíceis para elevar o superávit primário, por exemplo. “Os problemas vão estar aí em 2015, mas não vão entrar na campanha.”

     

    Pedro Rossi, professor da Unicamp e membro do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da universidade, não acredita que o debate ficará centrado em temas como inflação ou a questão fiscal, no qual a oposição não tem chance de ir muito além do que já foi colocado no primeiro turno, nem de convencer o eleitor médio.

     

    A discussão, afirma o professor, deve se dar em torno do papel do Estado na economia. Segundo Rossi, o debate entre uma visão mais neoliberal do Estado proposta pela oposição e a postura desenvolvimentista defendida pelo PT, com um Estado mais atuante na economia, deve se concentrar em três frentes: privatizações, políticas sociais e mercado de trabalho.

     

    Fonte: Valor Econômico

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