Aos 24 anos, a agente de turismo Thais Araújo faz depósitos mensais de R$ 160 num fundo de previdência há quatro. Com essa reserva, ela espera se aposentar aos 50 anos e dispor de uma renda próxima de R$ 3 mil. Em meio aos esforços do governo para pautar reformas fiscais no Congresso, a jovem acredita que não vai poder contar com a previdência pública quando quiser viajar e curtir a vida, sem se preocupar com o calendário de volta ao trabalho.
“Com o país em crise, não tem mais como depender do governo para a aposentadoria, ainda mais sendo tão baixa”, afirma. “Quem é aposentado não consegue viver com o que recebe, se aposenta e continua trabalhando. Não quero isso para mim.”
Tal consciência, aparentemente atípica nessa faixa etária, é mais comum do que se imagina. Uma pesquisa feita pela Consumoteca, consultoria especializada no comportamento do consumidor, com mais de 2 mil pessoas entre 18 e 50 anos, mostra que o planejamento de vida envolve o lado financeiro desde o início da maioridade. E é entre os mais jovens, com até 35 anos, que situa-se a maior parcela que possui algum dinheiro guardado, o equivalente a 60%, enquanto entre os mais velhos essa proporção é de 46%. Uma fatia de 36% dos pesquisados respondeu que não contribuiria para a previdência social se tivesse escolha, principalmente para não “financiar o sistema corrupto”.
“A ideia era estudar o impacto da Reforma da Previdência para essa geração, se era verdade que só vive o hoje e não faz planejamento nenhum, e se fosse assim a revisão das regras não seria um problema”, diz o sócio fundador da Consumoteca Bruno Maletta. “Mas o que a gente viu foi o contrário.”
O mais jovens têm menor capacidade de Poupança ao ingressar no mercado de trabalho e reservam, em média, R$ 238 mensais entre 18 e 24 anos. Aqueles com 25 a 35 anos guardam R$ 588, enquanto entre 36 e 50 anos, o valor aplicado limita-se a R$ 426. A renda pessoal dos pesquisados oscilou de R$ 1,8 mil até R$ 4,7 mil.
A caderneta é o destino mais comum entre todas as faixas etárias, chegando a 76% no grupo de 25 a 35 anos, enquanto os fundos aparecem com uma parcela de até 26% entre os entrevistados com 36 a 50 anos. A previdência privada surge com uma proporção maior também nessa faixa etária, com 20%.
A escolha da caderneta como opção prioritária se justifica não só pela carência de educação financeira, diz Maletta, mas também porque os jovens guardam dinheiro para adquirir bens ou realizar objetivos de curto e médio prazo. Poupar parte da renda para a velhice só começa a figurar como necessidade a partir dos 35 anos.
A reserva que Thais faz mensalmente para a aposentadoria provavelmente vai ser insuficiente para uma saída precoce do mercado de trabalho. Um cálculo feito no simulador de aposentadoria Target, da Icatu Seguros, mostra que para se aposentar aos 50 anos, a jovem teria que fazer uma aplicação mensal de R$ 1.198 num plano conservador, acumulando assim R$ 891,7 mil.
O investidor, em qualquer idade, tem de estar atento aos custos. Muitos planos cobram taxas de carregamento e de saída, o que na prática são pedágios para aplicar e resgatar. Como o setor é ainda dominado por gestores de grandes bancos e a maioria tem gestão conservadora em Títulos públicos, as taxas acabam corroendo a rentabilidade, diz Gustavo Pires, o sócio da XP Investimentos responsável pela plataforma de fundos.
O mercado de previdência se modernizou e os valores mínimos para fazer um plano caíram muito e já é possível acessar a gestão de um multimercado como o Verde, da gestora de Luis Stuhlberger, com uma contribuição mensal de R$ 100, diz Felipe Bottino, diretor da Icatu Seguros.
Na seguradora, a base de clientes jovens já representa 30%, embora em reserva respondam por menos de 7% do bolo. Se no passado esse era um público que estava fora do alvo, a tecnologia quebrou tal barreira. “Antes, era caro carregar esse cliente por 10, 20 anos. Agora, com o débito automático e o extrato on-line, ficou mais barato trazer o jovem para essa órbita e com produto bom”, diz.