Juro deve ir a 10% sem aliviar inflação

    Por Angela Bittencourt, Lucinda Pinto e Antonio Perez | De São Paulo

     

    A taxa Selic vai romper a barreira dos dois dígitos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e continuará subindo no início de 2014. Essa é a visão da maioria dos economistas ouvidos pelo Valor. É consenso entre os 42 entrevistados que a taxa alcançará 10% na semana que vem. Desses, 38 esperam que o juro suba ainda mais, sendo que a maioria das projeções (24) está distribuída entre 10,25% e 11%.

    O que parece consenso também entre os analistas entrevistados é que o aperto monetário vislumbrado será insuficiente para trazer a inflação para a meta – quadro que fica ainda mais nebuloso diante da deterioração da situação fiscal do país.

    Para Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da ARSA Investimentos, o ciclo de alta do juro deve ser encerrado em breve. A última elevação da Selic deve ocorrer em janeiro de 2014, mas o economista não descarta que a próxima alta seja a final. “Ciclo de três pontos percentuais é significativo e os seus efeitos contracionistas sobre a atividade se farão sentir principalmente em 2014. A demanda doméstica já está mais fraca, liderada pelo arrefecimento do consumo das famílias, que, por sua vez, vem sendo afetado negativamente por condições financeiras mais apertadas, desaceleração do crédito, menor crescimento da massa salarial real e queda da confiança dos consumidores. Não faz sentido um choque de juros num cenário de demanda doméstica fraca”, pondera Goldenstein que trabalha com a possibilidade de a inflação do ano que vem ficar abaixo de 5,5%. “Para recuperar a credibilidade da política econômica e ancorar as expectativas, um aperto monetário mais intenso não é a resposta adequada e sim a correção dos desequilíbrios fiscais”, diz.

    Para o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e atual chefe de pesquisas de mercados emergentes da Tandem Global Partners, Paulo Vieira da Cunha, a única forma neste momento de fazer a inflação convergir para o centro da meta seria dando um “choque” de juros, diante da inércia da inflação, piora das expectativas e deterioração do quadro fiscal. Mas uma ação como essa seria totalmente contraproducente. “Dada a atual dinâmica da dívida, jogar o juro muito mais para cima só pioraria a situação”, afirma. “Acho que eles [o BC] têm parte da culpa nisso, porque deixaram sua credibilidade erodir. Mas, como o estrago já foi feito, é preciso ter cuidado.”

    Para Solange Srour, economista-chefe da Arx Investimentos, “os impensáveis dois dígitos serão realidade”, o que deve reforçar a credibilidade do Banco Central. Ela espera que o juro alcance 10,50%, mas isso não será suficiente para colocar as expectativas de inflação abaixo de 5%. “Servirá para estabilizá-las em torno de 5,5% e 6,5% dependendo do cenário de câmbio que tivermos no primeiro trimestre de 2014 e, principalmente, da política monetária americana”, diz. Ela ressalta que a inflação represada deverá aparecer em algum momento após as eleições. Diante disso, o BC deve retomar a alta em dezembro de 2014, com uma dose de 0,50 ponto, fechando o ano em 11%. Para 2015, a extensão do ciclo dependerá do anúncio da política fiscal (crível ou não) do próximo governo.”

    Bruno Rovai, economista do Barclays no Brasil, espera que a Selic suba até 10,25% no começo de 2014. “Essa alta deve ser suficiente para manter a inflação abaixo do teto da meta ao fim do próximo ano, mesmo com as expectativas de inflação relativamente altas como neste momento, o que representa um risco para a condução da política monetária”, afirma.

     

    Fonte: Valor Econômico

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