Juros e dólar caem apesar de tensão externa

    A reação dos mercados locais de juros e câmbio ao agravamento da crise na Grécia foi relativamente modesta, com os fatores locais ainda tendo peso maior sobre esses ativos. 

    Embora o governo grego esteja cada vez mais perto de um calote, o fato de parte desse evento já estar refletido nos preços e a expectativa de que isso possa levar o banco central americano a adiar a alta dos juros nos Estados Unidos fizeram com que a reação do mercado de câmbio fosse moderada, com o dólar recuando frente às principais divisas no exterior. No mercado local, a moeda americana caiu 0,32%, para encerrar a R$ 3,117. 

    Além do enfraquecimento do dólar no exterior, a aproximação do vencimento dos contratos de swap cambial em julho limita uma alta maior da moeda americana no mercado local, diante da disputa entre os investidores com posições “compradas” (apostando na alta) e “vendidas” (apostando na queda) em dólar. Essa “briga” deve ganhar força hoje com a definição da taxa Ptax que será utilizada para a liquidação dos contratos que vencem no fim do mês. 

    “A crise da Grécia já era algo esperado e acho que o mercado assimilou bem. Uma saída do país da zona do euro deve provocar um movimento de aversão a risco em um primeiro momento, mas seria positivo porque tiraria uma incerteza do cenário”, afirma Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos. 

    No mercado local, a taxa de juros alta é um fator que também ajuda a amortecer o impacto dos efeitos da crise na Grécia, limitando as vendas da moeda brasileira. 

    Ontem, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) recuaram na BM&F, com os investidores corrigindo parte do aumento dos prêmios, principalmente na ponta mais curta da curva de juros. O DI para janeiro de 2016 caiu de 14,3% para 14,27%, enquanto o DI para 2017 recuou de 14,05% para 14,02%. 

    O Boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, mostrou que a mediana das projeções aponta para mais uma alta de 0,75 ponto percentual da taxa Selic, com a taxa básica de juros devendo encerrar o ano em 14,50%. 

    Apesar do aumento da projeção de inflação para este ano, cuja mediana das projeções passou de 8,97% para 9%, a mediana do IPCA para 2016 ficou estável em 5,50%. Já a projeção para o PIB para este ano piorou, indo de uma retração de 1,45% para um recuo de 1,49%. 

    O aperto da política monetária e a menor pressão de alta do dólar têm permitido ao Banco Central reduzir o volume da rolagem dos contratos de swap cambial que estão vencendo e diminuir o estoque de US$ 110,819 bilhões nesses instrumentos cambiais. 

    Ontem, a autoridade monetária anunciou que iniciará nesta quarta-feira a rolagem do lote de US$ 10,675 bilhões em swaps cambiais que vence em agosto. O BC vai rolar 6.800 contratos no leilão diário. Se mantiver o mesmo ritmo, a autoridade monetária renovará 66,89% do lote que expira em agosto. Em junho, o BC renovou 69,84% do lote de US$ 8,742 bilhões em swaps cambiais que vence hoje. 

    Os mercados têm se preparado para um calote do governo grego, embora isso não necessariamente implique na saída do país da zona do euro. Sem um acordo com os credores, aumentam as chances de o governo grego não pagar a dívida de ? 1,6 bilhão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que vence hoje, o que poderia levar à saída do país da zona do euro e trazer mais turbulência aos ativos.

     

    Fonte: Valor Econômico

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