Juros futuros sobem depois de comentários de diretor do BC

    Por Lucinda Pinto, Silvia Rosa e José de Castro | De São Paulo

    A sinalização do Banco CENTRAL Europeu (BCE) de que poderá adotar medidas de estímulo monetário em junho e os comentários da presidente do Federal Reserve (Fed, Banco CENTRAL americano), Janet Yellen, reforçando o tom “dovish” (pró-afrouxamento monetário) alimentaram a demanda por ativos de risco. No mercado local, no entanto, esse movimento foi atenuado por rumores em relação à pesquisa eleitoral, que será divulgada neste fim de semana, e por comentários dos diretores do Banco CENTRAL.

    Os juros futuros fecharam em alta firme ontem, reagindo às declarações feitas pelo diretor de assuntos internacionais do Banco CENTRAL, Luiz Carlos Awazu, durante evento em São Paulo. Chamou a atenção dos agentes a afirmação de que o Banco CENTRAL vai “continuar o trabalho iniciado em abril de 2013”, entendido pelo mercado como uma indicação de continuidade do ciclo de aperto monetário.

    A taxa do contrato de DI para janeiro de 2017 encerrou em 12,20%, ante 12,12% de quarta, enquanto a taxa do DI de janeiro de 2016 subiu a 11,92%, em relação a 11,84% do pregão anterior.

    Awazu, considerado o integrante do Comitê de política monetária (Copom) com viés mais “dovish”, afirmou que o BC continua “trabalhando para trazer o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) para a meta”. Operadores reconhecem que é cedo para que o Banco CENTRAL assuma qualquer compromisso com a próxima reunião, que acontecerá apenas nos dias 27 e 28 deste mês. Ainda observam que as declarações de Awazu podem ser relativizadas diante dos recentes dados de atividade muito fracos e também da desaceleração da inflação. “O fato é que ele introduziu uma dúvida que não havia antes, de que o BC pode prosseguir com o ciclo”, observa um especialista.

    Awazu também comentou sobre o programa de intervenção no mercado de câmbio, reiterando que ele deve ser estendido até 30 de junho, conforme já anunciado. O diretor do BC afirmou que o momento é de transição na economia global e é preciso avaliar se medidas tomadas até então continuarão a ter utilidade.

    Os analistas estão divididos em relação à continuidade do programa de intervenção. Quando o BC anunciou o programa, em 22 de agosto de 2013, em um momento em que se acreditava que a elevação da taxa de juros nos EUA viria logo após o término do programa de estímulos, o dólar estava em R$ 2,45 e a taxa do título do Tesouro americano de dez anos chegou a 3%. De lá para cá, o cenário mudou, com o Fed sinalizando que o juro deve continuar baixa por um período razoável após o término do programa. A taxa do título dos EUA de dez anos está ao redor de 2,60%, enquanto o câmbio está em R$ 2,21.

    Para o analista de uma corretora estrangeira, em cenário de fluxo positivo não faria sentido o BC manter o programa, que prevê a injeção diária de US$ 200 milhões no mercado futuro por meio de contratos de swap. “Se o BC interromper o programa pode até trazer um fôlego para o dólar, mas isso só vai acontecer se o fluxo diminuir”, afirma o profissional, lembrando que o BC poderia manter as intervenções por meio da rolagem dos contratos de swap.

    O BC tem aproveitado o momento de fluxo positivo para reduzir as posições em swaps cambiais, que soma US$ 87,325 bilhões. Depois de ter deixado vencer US$ 2,233 bilhões em swaps no mês passado, a autoridade sinalizou que não deve fazer a rolagem integral do lote de US$ 9,653 bilhões que vence em 2 de junho.

    Para o diretor da Nomura Securities, Tony Volpon, o BC não deve interromper o programa, deixando o câmbio desancorado em meio ao processo eleitoral e à iminência da normalização da política monetária dos EUA. “Não acho que o BC vai interromper o programa, mas pode passar a adotar uma atuação mais discricionária no mercado de câmbio.”

    Os comentários do diretor do BC e os rumores de uma recuperação da presidente Dilma Rousseff na pesquisa que será divulgada pelo Datafolha ajudaram a atenuar a queda do dólar. A moeda americano caiu 0,18% ontem, encerrando a R$ 2,214, depois de ter atingido a mínima de R$ 2,202, acompanhando o mercado externo.

     

    Fonte: Valor Econômico

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