Paulo Caffarelli assumirá o segundo posto mais importante do Ministério da Fazenda
ROSANA HESSEL
O futuro secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, assumirá o cargo em um momento crítico. O pessimismo dos investidores e do mercado em relação à economia brasileira cresceu significativamente nos últimos meses e, com a sucessão de maus resultados em indicadores de crescimento econômico, inflação e contas públicas, a credibilidade da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff nunca esteve tão baixa.
Caffarelli foi convocado com a missão de melhorar a interlocução com o setor privado. Mas terá que fazer mais do que isso. A confiança de empresários e investidores no ministro da Fazenda, Guido Mantega, exauriu-se diante da sequência de desacertos, previsões não cumpridas e manobras contábeis para atingir as metas fiscais. Ao receber o convite, o novo braço direito de Mantega disse a amigos que ficou impressionado com o peso da responsabilidade que terá daqui para a frente.
O currículo e os cargos que ocupou no Banco do Brasil — onde começou como aprendiz e fez carreira por mais de 30 anos até chegar à vice-presidência de Atacado, Negócios Internacionais e Private Banking — lhe dão credenciais para a função. Caffarelli passou por várias áreas dentro do BB e cuidou de projetos estratégicos. Um dos mais importantes foi a restruturação e o lançamento no mercado das ações da BB Seguridade, a maior operação desse tipo realizada no mundo em 2013.
No cargo que ainda ocupa, o executivo cuida das operações de grandes empresas brasileiras e mantém relacionamento estreito com o capital estrangeiro. Ele é responsável também por montar complexas operações para financiar projetos de infraestrutura, considerados essenciais para destravar o crescimento do país.
Contramão
Analistas, contudo, avaliam que o sucesso da missão vai depender da expectativa que será colocada sobre seu trabalho. Se a ideia for arejar o diálogo, a chance de sucesso é grande. Mas a simples presença de Caffarelli na Fazenda não é garantia de que a confiança na política econômica vai ser restabelecida.
O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, não tem expectativas tão elevadas em relação ao novo secretário executivo. “Creio que, no geral, tudo deve continuar parecido com o que está porque ele é próximo do ministro Mantega. A ideia de que haverá comunicação melhor com o mercado só funcionaria se houvesse, de fato, uma mudança de política. Alguém próximo ao mercado não vai melhorar a situação”, destacou.
Na avaliação do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a vontade de o governo melhorar o diálogo é fundamental. “Mas isso não resolve o problema. As conversas precisam ser constantes e me parece que Caffarelli é qualificado para o cargo. A dúvida é se ficará mais tempo ou cumprirá um mandato-tampão”, disse.
“O mercado está mais cético do que no fim do ano passado. O cidadão brasileiro também ficou mais pessimista. Quando isso acontece, ele joga mais na defensiva, evita aumentar gastos e vai na contramão do que o governo quer”, observou o vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, José Dutra Vieira Sobrinho.
“A política precisa mudar”
Professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), José Matias-Pereira alerta que a credibilidade não depende só do trabalho de uma pessoa com traquejo para negociar com o mercado. “É preciso mudar a política econômica. O governo insiste em um caminho que não está dando certo. O PIB (Produto Interno Bruto) do país não cresce e todos os indicadores estão ruins”, disse ele. “É preciso fazer reformas, destravar o mercado de câmbio e a intermediação financeira.”
Fonte: Correio Braziliense