Nem Pibinho reduz os rombos externos

    O deficit nas transações correntes, que reúne todas as contas do país com o exterior, atingiu US$ 10,6 bilhões em janeiro, puxado pelo deficit na balança comercial

    A recessão que arrastou a indústria para o atoleiro e já se refletiu nas quedas das vendas do varejo ainda não foi suficiente para reduzir a pressão sobre as contas externas. Com a economia em marcha lenta, era de se esperar que as importações recuassem e que as exportações ganhassem força, ou que, devido ao menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), as multinacionais remetessem menos lucros às matrizes. No radar dos analistas, a escalada do dólar também deveria influenciar nessa conta, pois, com o real mais fraco, a expectativa era que o gasto dos brasileiros em viagens ao exterior arrefecesse. Mas nada disso ocorreu. 

    Só em janeiro, a balança comercial registrou deficit de US$ 3,2 bilhões. Já a gastança dos brasileiros lá fora superou as receitas deixadas por turistas estrangeiros aqui em US$ 1,6 bilhão, um recorde para o período. Por fim, a conta de rendas também ficou no vermelho em US$ 4 bilhões, em razão da maior remessa de lucros e dividendos este ano. Não por outro motivo, o rombo nas transações correntes, que englobam todas essas contas, atingiu em janeiro a marca de US$ 10,6 bilhões. O valor é 7,8% inferior ao que o Banco CENTRAL (BC) registrou em janeiro de 2014, com deficit externo de US$ 11,5 bilhões.

    Mas, no entender de especialistas, dada a paralisia em que se encontra o PIB, era de se esperar que o buraco encolhesse bem mais. Na verdade, ao se listar as riquezas produzidas por famílias e empresas e a saída de recursos pelas transações correntes, essa relação continua elevada. O deficit somou em janeiro 4,17% do PIB. Foi o terceiro mês seguido que o rombo ficou acima de 4%, um patamar considerado elevado e que coloca o Brasil entre os líderes no quesito deficit externo no ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em valores, o rombo já chega a US$ 90,4 bilhões, no acumulado em 12 meses. 

    Commodities

    “Parte desse deficit se deve à piora na balança comercial”, assinalou ontem o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. Ele mencionou o cenário desfavorável a exportadores, com queda dos preços internacionais das commodities. “Itens como minério de ferro e soja, que são importantes na nossa balança, tiveram recuos expressivos”, disse. Comparado a janeiro de 2014, os preços de diversas mercadorias exportadas pelo país desabaram. “Soja recuou 28%, suco de laranja, 13%, açúcar em bruto, 10%, e minério de ferro, 49%”, listou. Em média, os valores recuaram 18% e os volumes subiram 2,8%. 

    “Trata-se de mais um resultado nada animador, mesmo considerando que o período costuma registrar baixos superavits e até leves deficits”, mencionou a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Marzola Zara. Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, emenda: “O Brasil exporta basicamente commodities e o momento é bastante desfavorável, porque os preços desses itens estão em queda. Mesmo os países que compram mercadorias mais elaboradas, estão sofrendo uma forte crise que acaba prejudicando duplamente a balança comercial.”

    Parceiros em dificuldades

    As economias da Europa e da China estão em desaceleração e reduzindo o volume de importações do Brasil. Mas, a pior situação é vivida por parceiros locais, como Venezuela e Argentina, que são grandes compradores de manufaturas brasileiras. Para piorar, ambos sofreram forte fuga de dólares, em razão das incertezas locais. Além das barreiras comerciais, a Argentina está numa crise severa. Já a Venezuela enfrenta crise política sem precedentes, que foi agravada pelo débil quadro econômico: em 2015, o país entrará no segundo ano seguido em recessão e a inflação passa de 60% ao ano.

     

    Fonte: Correio Braziliense

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