No ritmo de uma recuperação “gradual”

    Mantega e Tombini alinham discurso para comemorar, com cautela, o bom resultado do PIB no ano passado

    Sonia Filgueiras 

    Em discursos afinados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, declararam ontem que o crescimento de 2,3% do PIB de 2013 mostra uma trajetória “gradual” de recuperação. Mantega afirmou esperar para este ano um crescimento sustentável “que pode ser um pouco maior do que o de 2013”. A projeção oficial do governo é de um crescimento de 2,5% neste ano. Tombini declarou em nota divulgada à imprensa que “as mudanças na composição da demanda e da oferta fortalecem as perspectivas de continuidade do amai ciclo de crescimento neste e nos próximos anos, processo este que tende a se apoiar nos sólidos fundamentos da economia brasileira, na robustez do mercado interno e no ambiente de intensificação da atividade global”. 

    Dentro do governo, a expansão do PIB – acima das projeções do mercado e da própria assessoria econômica da Fazenda – foi bem recebida. Avalia-se que o resulta- do, combinado com a meta de 1,9% do PIB para o superávit primário do setor público é um passo importante no esforço de afastar o risco de rebaixamento da economia brasileira na classificação das principais agências de risco. Outro aspecto destacado por fontes do governo é o carregamento estatístico – também chamado de carry-over – que o crescimento de 2013 transferirá para 2014. 

    Embora Mantega não tenha in -formado na entrevista à imprensa, o cálculo do governo está em linha com as projeções do mercado, de 0,7 ponto percentual (número, por exemplo, da consultoria Rosenberg Associados). 

    O carregamento estatístico resulta do fato de o PIB anual ser o resultado da comparação da média dos trimestres do ano em exame com a média dos trimestres do ano anterior. Como a trajetória da economia foi ascendente e o último trimestre registrou uma expansão inesperada, a média dos trimestres 2013 será inferior ao resultado acumulado no final do ano. Na prática, significa dizer que, se, por hipótese, a economia ficasse estagnada ao longo de 2014, ao final do ano, o resultado do PIB registraria um crescimento de 0,7% pela simples comparação entre as médias de crescimento dos dois anos. Antes, os cálculos do mercado apontavam um carregamento neutro ou até negativo. “Os analistas terão muito trabalho neste fim de semana para rever suas projeções e certamente as projeções serão mais positivas”, brincou Mantega. 

    O ministro classificou o crescimento do ano (2,3%) como “satisfatório”, mas destacou a recuperação registrada no final de 2013. Lembrou que a expansão de 0,7%. alcançada no último trimestre em comparação ao trimestre anterior representa um crescimento anualizado de 2,8% (mais próximo do que deseja a equipe econômica). Ele também chamou a atenção para o desempenho positivo das exportações. “Cresceram mais que as importações e contribuíram para o crescimento do PIB. Isso pode sinalizar uma mudança para 2014”, disse o ministro. 

    Para Mantega, em 2014 as condições serão mais favoráveis porque a economia mundial está melhorando lentamente. “Teremos um cenário internacional cada vez melhor. Os mercados vão melhorar e a nossa indústria, que teve problemas de crescimento em 2013, poderá crescer mais aumentando as exportações. Agora com um câmbio mais favorável”, disse. O ministro também previu a estabilização das turbulências. “Acredito que a turbulência causada em 2013 possa ser menor ou mesmo se estabilizar em 2014. Com mais estabilidade cambial, teremos mais investimento, mais ingresso de capitais, e os empresários poderão também tomar crédito lá fora, o que contribuirá para um cenário melhor”, avaliou. 

    Mantega reafirmou que não serão concedidos novos estímulos tributários à economia em 2014. “Não faremos mais desonerações tributárias. Já paramos de fazer em 2013”. Ele avaliou que a meta fiscal e a programação de 2014 fortalecem os fundamentos da economia, contribuindo para o aumento da confiança dos agentes econômicos, e dão condições para que a inflação fique sob controle. 

    Mantega disse acreditar que a taxa de investimento, hoje em 18,4% do PIB, chegará a 24% até 2020. Segundo ele, a expansão da taxa de investimentos em 2013 terá impacto positivo neste ano. 

    As mudanças na composição da demanda e da oferta fortalecem as perspectivas de continuidade do atual ciclo de crescimento neste e nos próximos a nos ” Alexandre Tombini Presidente do Banco Central.

     

    Fonte: Brasil Econômico

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