O ministro da Fazenda, Guido Mantega, segue à risca o seu papel de defensor do governo, mas muito pouco do que diz deve ser levado a sério. Mesmo com todas as evidências de que a economia brasileira vive seu pior momento na administração Dilma Rousseff, combinando recessão com inflação no teto da meta, de 6,5%, ele garante a casa está arrumada e que o Brasil só não está crescendo mais porque o mundo enfrenta sérias dificuldades. Mais: afirma que 2015 será um ano ainda melhor e que será possível entregar uma meta de superavit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de até 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
O discurso de Mantega cabe muito bem nos programas eleitorais do PT, nos quais não se economiza em fatos inverídicos com o claro intuito de se fisgar os eleitores menos informados. O Brasil real está nas projeções divulgadas ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que foram vistas como uma afronta pelo Palácio do Planalto. “Anunciar essas projeções em pleno segundo turno das eleições nos pareceu, no mínimo, estranho”, diz um assessor do Palácio do Planalto.
Nas contas dos economistas do FMI, a economia brasileira crescerá minguado 0,3% neste ano, o equivalente a 10% da expansão prevista para o mundo, que, no entender do ministro da Fazenda, prejudica, sem dó, o Brasil. Para Mantega, o FMI está pessimista demais. “O país vai crescer 0,9% em 2014”, enfatiza, depois de ter projetado avanço de 4,5%, 4%, 2,5%, 18%.
Talvez o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também seja acusado de pessimista hoje pelo ministro da Fazenda. O órgão, que vem tendo a credibilidade destruída pelo governo, divulgará a inflação de setembro medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Na média das projeções do mercado, a taxa terá alta de 0,47%. Com isso, a carestia acumulada em 12 meses cravará 6,63%, estourando, pela 12ª vez no governo Dilma, o teto de tolerância fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Não é só. Em todos os meses de 2014, a inflação ficou acima de 6%, reduzindo, sobretudo, o poder de compra dos mais pobres.
A inflação no topo da meta é apontada pelo FMI como um dos principais motivos para a economia brasileira afundar. O custo de vida elevado mina a confiança dos consumidores, que reduzem as compras. As empresas, por sua vez, diminuem a produção, pois temem ficar com os estoques encalhados. Essa retração do consumo e da produção ressuscitam no país o fantasma do desemprego, o que só alimenta a onda de desconfiança, travando outra mola propulsora do PIB: os investimentos. Diante desse quadro desolador, o Fundo aponta o Brasil como uma das três das maiores preocupações para a economia mundial hoje. As outras duas são o Japão e a Zona do Euro.
Mais do que distorcer a realidade, Mantega, que permanece no cargo, apesar de ter sido demitido por Dilma Rousseff quatro meses antes de o governo dela acabar, deveria assumir os erros da política econômica que comandou e indicar que ela chegou ao fim. Poderia assegurar que a atual administração não vai mais brincar com a inflação, será mais amigável ao capital, acabará com a maquiagem das contas públicas e dará autonomia efetiva para o Banco CENTRAL levar o custo de vida para o centro da meta, de 4,5%.
É difícil dizer se, nesta altura do campeonato, com os petistas desesperados para garantir mais um mandato a Dilma, os agentes econômicos acreditariam no ministro da Fazenda. Mas não custa tentar. Talvez, pelo menos, a candidata à reeleição consiga alguns votos a mais entre aqueles que ela acusa se jogarem contra um projeto que está transformando o Brasil – aquele dos programas do PT.
Alegria
no BC
» Técnicos do Banco CENTRAL não esconderam a felicidade de ver o Fundo Monetário Internacional (FMI) alfinetando o governo em meio às eleições. Além de desconstruírem o discurso de que tudo está muito bem no país, os números vão ajudar os eleitores indecisos a pensarem bem na hora depositarem os votos nas urnas. “Vale a pena insistir em um governo que derrubou o crescimento do país de 7,5% para 0,3%?”, indaga um deles.
Pesquisas
e torcida
» Economistas da Universidade de São Paulo (USP) que contribuíram para pesquisas de intenções de votos encomendadas pelo sistema financeiro no primeiro turno das eleições presidenciais, acreditam que o crescimento da candidatura de Aécio Neves vai continuar firme nas próximas semanas. Alguns bancos mantêm, contudo, 55% de chances de Dilma vencer a etapa final da disputa. “Esse quadro, certamente, será revisto nos próximos dias, em favor do tucano”, diz um executivo de um grande Banco estrangeiro.
Hyundai e Caoa
ampliam parceira
» A Hyundai decidiu estender a parceria no Brasil com o grupo Caoa, que acabaria em 2018. O acordo durará mais 10 anos. A montadora coreana desistiu de levar adiante o projeto de voo solo no país. Manterá apenas a fábrica de Piracicaba, na qual é produzido o HB20. Acredita que o mercado brasileiro de automóveis já está batendo no teto.
Com Célia Perrone e Diego Amorim
Fonte: Correio Braziliense