COLUNISTAS
A expectativa da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana é de mais uma queda de 100 pontos na taxa Selic, levando a taxa para 8,25%. O debate em torno de qual será a Selic terminal desse ciclo de queda está nos discursos dos diretores do Banco Central e no dia a dia dos gestores e economistas. A Selic ficará acima ou abaixo do último ciclo, quando atingiu 7,25%?
A última ata do Copom indicou que com uma Selic de 8% a inflação para 2018 ficaria em 4,30%, ou seja, abaixo da meta de 4,50%. A sinalização do BC foi clara de que a Selic teria espaço para ir pelo menos até 7,50%, segundo seus modelos.
Para analisarmos as condições de a Selic atingir o mesmo patamar de 7,25%, precisamos comparar os principais indicadores de 2012 com o cenário atual.
- Crédito: o estoque de crédito para pessoa jurídica, em 2012, estava crescendo a uma taxa real anual de 11%. Agora, está decrescendo 12,2%;
- Desembolsos do BNDES: os empréstimos do BNDES estavam crescendo a uma taxa de 6,3%. Agora, apresentam uma queda de 20,4%;
- Impulso fiscal: o impulso fiscal, que é o impacto expansionista ou deflacionista do lado fiscal ajustado ao ciclo econômico, em 2012 saiu de 0% para 2% do PIB. Agora, a previsão é de contração de 1,50% para -1,30%.
- Hiato do produto: em 2012, tínhamos um hiato positivo de 1% e atingiu 3% em 2013 (folga no hiato significa hiato negativo). Agora, a previsão do hiato atual é de -3% e deve permanecer no campo negativo até o 3º trimestre de 2018;
- Expectativa de inflação: em 2012, a expectativa para o próximo ano era de 5,40%, bem acima da meta de 4,50%. Agora, temos uma expectativa de 4,20% para 2018, abaixo da meta de 4,50%;
- Tendência da taxa de Câmbio: em 2012, o dólar estava em uma tendência de alta em relação aos R$ 2,00 correntes na época. Atualmente, o dólar apresenta uma tendência de queda, após cinco anos de tendência de alta;
- Contas públicas: em 2012, a trajetória da Dívida bruta era estável, em torno de 54% do PIB, com Superávit primário de 2,70% do PIB. Atualmente, nos encontramos em uma grande crise fiscal, com a Dívida bruta em 73,8% do PIB em uma trajetória explosiva, podendo atingir 100% do PIB nos próximos anos.
Bem diferente do último ciclo em que atingimos os 7,25%, atualmente temos a equipe econômica unida com o mesmo objetivo. O resultado disso pode ser visto na grande revolução que estão fazendo na contenção dos gastos e na equalização do juro da economia, eliminando a distorção do juro subsidiado.
Como podemos observar no gráfico, a situação do hiato é bem diferente da anterior, o que permite um maior espaço para testar patamares mais baixos da Selic. O ponto negativo é a tendência explosiva da Dívida bruta. Não temos muito tempo para esperar uma solução. Se não enfrentarmos logo esse problema, o juro de um dígito não será sustentável.
Desde a última reunião do Copom, continuamos a ver surpresas positivas na inflação. Após o anúncio do aumento do imposto no PIS e Cofins da gasolina, que resultou em um impacto de 0,40% no IPCA, e a volta da bandeira vermelha na conta de energia elétrica, as revisões por parte dos analistas para o IPCA de agosto pularam para em torno de 0,60%.
A despeito disso, o número fechado que será divulgado nesta quarta-feira deve ficar entre 0,25% e 0,35%, bem abaixo da projeção original. A tendência de queda da inflação, por todas as medidas de núcleos é bem clara e o processo de desinflação deve continuar devido ao grande hiato da economia. O cenário internacional continuou benigno e o fluxo para países emergentes segue firme.
Pela última pesquisa Focus, divulgada ontem, o grupo Top 5 está com previsão da Selic terminando o ano de 2017 a 7,25% e com expectativa de inflação para 2018 em 4,20%. O grande hiato e as expectativas ancoradas permitem testar um patamar abaixo dos 7,25%.
Pelas declarações dos diretores do BC de que o final do ciclo não terminará necessariamente com movimentos suaves, podemos fechar o ano de 2017 com a menor taxa de juro que o Brasil já teve. Isso demonstra à sociedade que, com um trabalho sério e sem subsídios de outras linhas de financiamento, temos juro baixo não apenas para um grupo seleto da economia, mas para toda a população.
Luiz Eduardo Portella é sócio-gestor do Modal Asset Management
E-mail: lportella@modal.com.br
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Fonte: Valor Econômico