Leonencio Nossa
Em Minas, presidente afirma em discurso que “é muito normal uso de todos os instrumentos possíveis para desgastar governo” durante a pré-campanha
A presidente Dilma Rousseff disse ontem que as suspeitas que envolvem negócios da Petrobrás são uma tentativa de atingir sua campanha à reeleição. Em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, a presidente disse que a estratégia de desgastar o governo é usual no período pré- eleitoral e citou a campanha à reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“E muito usual em período de pré-campanha no Brasil, como é o de agora, e os períodos de campanha que haja a utilização de todos os instrumentos possíveis para desgastar esse ou aquele governo”, afirmou. “Nós temos experiência disso, porque nós já enfrentamos isso em 2006, na reeleição do Lula, e em 2010, na minha eleição.” A tática de atrelar o caso envolvendo a estatal à disputa eleitoral foi definida por Dilma numa conversa na semana passada com Lula, segundo interlocutores do Planalto. Daqui para frente, a presidente, sem se alongar em explicações técnicas, reforçará o discurso de que as suspeitas fazem parte do jogo eleitoral da oposição. Dilma prometeu não recuar na “disputa política”.
“Podem ter certeza que o meu governo continuará governando, mantendo o seu caráter republicano, mas nós não iremos recuar um milímetro da disputa política quando ela aparecer”, afirmou.
Na solenidade em Contagem a presidente distribuiu verbas, máquinas e caminhões a prefeitos de Minas Gerais. Nos eventos públicos e fechados na cidade e em Belo Horizonte durante todo o dia de ontem, Dilma esteve sempre acompanhada do ex- ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel, pré-candidato do PT ao governo mineiro.
Pimentel esteve também no almoço oferecido à presidente por Walfrido dos Mares Guia, ex-ministro do governo Lula. Em janeiro, Walfrido se livrou do processo do mensalão mineiro – esquema de arrecadação ilegal de recursos para a campanha à reeleição do então governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998, segundo denúncia do Ministério Público Federal – após a Justiça decretar prescrição dos crimes de peculato e formação de quadrilha.
Dilma discursou no fim do dia em Contagem, diante de 151 prefeitos que ganharam patrolas e caçambas. A presidente anunciou a liberação de uma parcela de R$ 1,5 bilhão de recursos para custeio das prefeituras brasileiras. Escolhido pelo Planalto para falar na cerimônia, o prefeito de Joaíma, Donizete Lemos (PT), falou abertamente em campanha e pediu apoio para a petista. “Companheiros, não tenham medo de apoiar a presidente Dilma. O Brasil de 12 anos para cá tem essa transformação”, disse. Em seguida, simpatizantes do governo e militantes que completavam a plateia cantaram em coro: “olê, olê, olá, Dilma, Dilma”.
• Pronta para o embate
“Podem ter certeza que meu governo continuará governando, mas não vamos recuar um milímetro da disputa política quando ela aparecer” Dilma Rousseff PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Governo tenta adiar reunião sobre CPI
• Em nova manobra para atrasar o início das investigações sobre a Petrobrás no Congresso, aliados da presidente Dilma Rousseff tentam adiar para amanhã a reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado marcada para analisar, hoje, a abrangência da CPI. Nomeado ontem relator da questão, o senador Romero Jucá (PMDB- RR) indicou que vai abraçar a missão, mas alegou que não deve conseguir dar um parecer a tempo. Em resposta ao governo, a oposição apresentará hoje um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal para que a investigação tenha apenas a estatal como foco. / DÉBORA ÁLVARES
Fonte: O Estado de S.Paulo