Para governo, inflação vai “naturalmente” para a meta

    Alex Ribeiro De Brasília

     

    O risco de uma variação negativa do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre é pequeno.

    A inflação deve convergir “naturalmente” para o centro da meta assim que passar o choque de preços administrados. Essa é a visão de uma fonte do governo, quando muitos analistas creem que o Comitê de política monetária (Copom) do Banco CENTRAL parou de subir os juros básicos, porque desistiu de trazer a inflação à meta, diante de uma aguda desaceleração da economia.

    “A economia não está crescendo bastante, mas vem crescendo”, disse uma fonte oficial ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. “Isso me leva a crer que é pequena a probabilidade de um PIB negativo no segundo trimestre. Mas não significa que não possa ocorrer.” Assim que superados os movimentos de reajuste de preços administrados e de depreciação da taxa de câmbio, a inflação tende a apresentar uma menor resistência.

    “Vamos caminhar naturalmente para uma trajetória de convergência da inflação.” A divulgação de um fraco crescimento do PIB no primeiro trimestre, com avanço de apenas 0,3%, incluindo uma queda de 0,1% no consumo das famílias, levou muitos analistas a prever uma variação negativa do indicador no segundo trimestre, ou mesmo uma recessão técnica.

    “Não estou vendo isso”, disse a fonte. “Não tenho uma bola de cristal, mas para mim a probabilidade de isso acontecer é baixa.” Haveria vários fatores, tanto do lado da oferta como da demanda, que ajudariam a sustentar um crescimento baixo, mas no terreno positivo, nos próximos trimestres.

    A incógnita é a baixa confiança de empresas e indivíduos.

    “O mercado de crédito continua se expandindo. A projeção do Banco CENTRAL é que cresça em torno de 13% em 2014, o que não é pouco. A taxa de desemprego está em níveis historicamente baixos. O salário continua a crescer em termos reais.” O recuo da inflação também deverá contribuir para sustentar a economia.

    “No primeiro trimestre, a inflação foi muito alta, em parte devido ao choque de preços de alimentos.

    No segundo trimestre, está sendo mais baixa, e o choque de alimentos se reverteu.” No lado da demanda, há também o peso dos gastos do governo.

    “O consumo do governo ainda está alto e tem um peso importante na demanda”, afirma.

    As exportações, por outro lado, estão reagindo do ponto de vista das quantidades embarcadas. Isso não fica muito claro nos volumes financeiros, porque preços de produtos exportados pelo Brasil caíram. O aumento das vendas externas de produtos físicos é um fator que ajuda a sustentar a demanda agregada.

    Do ponto de vista da oferta, lembrou, a safra de grãos deste ano promete ser recorde. “A agropecuária é importante para a indústria.” Isso pode ser um impulso importante para a atividade, como mostra a experiência recente na Região Sul. Lá, a produção de grãos reagiu em 2013, depois de um mau ano, ajudando a puxar a indústria. Agora, o Nordeste vive uma situação semelhante de recuperação agrícola, com repercussões positivas para a economia como um todo.

    “Concordo que essa queda na confiança foi muito forte, mas precisamos aguardar mais um pouco. Já vinha caindo, e tivemos agora em maio uma queda mais acentuada”, afirmou a fonte.

    Não há evidências, afirmou, de que a alta de juros não será suficiente para baixar a inflação. “Essa história ainda não terminou”, disse. “Precisamos ver como a economia vai responder nos próximos trimestres”, afirmou. “Se você olhar os canais de transmissão do crédito, câmbio, atividade, tudo está seguindo o seu curso normal, como deveria ser.” O objetivo do Banco CENTRAL, afirmou, é levar a inflação para a meta, de 4,5%. As projeções divulgadas até agora no relatório de inflação e na última ata do Copom , porém, mostram que, em 2015, a inflação não converge para a meta em nenhum dos cenários.

    “As projeções para 2015 estão bastante sensibilizadas pela questão dos preços administrados”, disse. “Existem dois processos grandes de correção de preços relativos. Um é a correção de preços internos em relação aos externos, outro são os livres em relação aos administrados.” “Se a inflação de preços administrados neste ano fosse de 1,5%, perto do ano passado, em vez dos 5% esperados, a inflação ficaria 1 ponto percentual menor”, disse.

    “Esses preços estão na contramão.

    Num ciclo de alta de juros, deveríamos esperar que os preços respondessem subindo menos”, disse. “Tudo o mais constante, uma vez que cesse processo de correção de preços relativos, a resistência da inflação tende a diminuir, e a inflação, a recuar.” Outros fatores ajudam a trazer a inflação para a meta, ponderou.

    Um deles é que o efeito da alta de juros para conter o avanço de preços da economia deve se estender por um bom tempo, até 2016. “O horizonte relevante de política monetária é de dois anos”, disse . “O efeito máximo ocorre em um ano, mas depois disso o efeito continua.” Outro fator favorável é uma certa moderação nos reajustes salariais. “Os salários estão crescendo menos. Continua crescendo bem, mas o mercado tem dado sinais de acomodação. Isso é importante em termos de inflação, olhando para a frente.” Um terceiro fator mencionado pela fonte oficial é o fato de que as expectativas de inflação estão mais favoráveis em 2016. Para este ano, estão em torno de 6,5%; para 2015, 6%; e, para 2016, em 5,5%. Seguem acima da meta, mas com trajetória de queda.

    A fonte não quis comentar se o aperto monetário estaria de fato encerrado, como acredita boa parte do mercado. “Não saberia dizer o que o Copom vai fazer na próxima reunião e muito menos o que vai fazer nas seguintes, neste ano, em 2015 ou 2016”, disse.

     

    Fonte: Valor Econômico

    Matéria anteriorCopa pode aumentar PIB em até um ponto, mostram estudos
    Matéria seguinteCota de concurso será fiscalizada